Polaroid de um país à beira-mar adiado.
Polaroid de um país à beira-mar adiado.
O artigo de Março na revista MEER.
“Sinto que me regularam a vontade, uma tontura plural que me faz esquecer de pequenas coisas com maior frequência, nos intervalos tento enumerar as vantagens que a urbanidade me trouxe. Acho que foi a tomada de consciência do rolo compressor em que o tempo ou a sua passagem se tornou. Imagino o mundo sem a noção de tempo e espaço e acabo, em sonhos, como escravo fustigado na Roma antiga ou servo da gleba na idade média. Olhando para o que sou e o que faço não vejo a diferença numa continuidade de sinais e fragilidade que vou deixando por onde passo.”
https://www.meer.com/pt/84937-perspectiva-abaixo-do-nivel-do-mar
O artigo de fevereiro da revista MEER
“ Olho em redor, sou um habitante de ver, na sociedade que fabrica costumes. Desloco-me pela mecânica de pernas e braços e levo uma vivência urbana bem-comportada.”
O artigo de Janeiro na revista MEER.
“ Uma destas manhãs acordei com as mãos geladas, a cabeça tonta, a claridade a desfazer-se pelas persianas iluminando o cotão suspenso no quarto, o locutor na rádio a anunciar o caos no trânsito e eu a interrogar-me por que diabo estava o meu quotidiano, cada vez mais insignificante, anunciado em público.”
https://www.meer.com/pt/83514-um-condominio-regido-pelas-leis-da-narrativa
Novo artigo na revista internacional MEER, na versão portuguesa. Quando o sexo é poesia.
Novo artigo na revista internacional MEER, na versão portuguesa. Um ensaio sobre arte e tecnologia.
https://www.meer.com/pt/81272-a-arte-e-a-tecnica-na-invisibilidade-do-corpo
Novo artigo na revista internacional MEER, na versão portuguesa.
Abaixo, o link para a biografia e para o artigo.
https://www.meer.com/pt/81098-setembro-nao-disse-ao-que-veio
Começa hoje a minha colaboração mensal na revista internacional MEER, na versão portuguesa.
Abaixo, os links para a biografia e para o artigo.
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https://www.dn.pt/6099402468/feira-do-livro-de-poesia-regressa-a-lisboa-a-19-de-marco/ |
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Imagem: Pinterest |
Então, basicamente é isto não é?
Um esfregão Scotch-Brite para incluir as lides domésticas, uma maçã amarela para incluir a pujança da agricultura nacional e um cartão vermelho para incluir o futebol, religião comummente aceite por todos os estratos sociais.
P.S. Aceitam-se encomendas, base de licitação: 74.000,00 EUR
Desde que inventaram a roda, o mundo não parou mais, a nós cabe usar o travão ou, pelo menos, tirar o pé do acelerador.
Olhando para as pequenas coisas, o mundo anda mesmo mais devagar...
Tive a oportunidade de conhecer o Nelson Nunes num dos muitos cursos de escrita criativa da EC.ON, daí para cá tenho acompanhado o seu percurso literário com muito interesse, o seu último livro Enquanto vamos sobrevivendo a esta doença fatal, da editora Zigurate, a que tive o prazer de assistir ao lançamento é um ensaio bem estruturado, de leitura acessível, com suporte bibliográfico abrangente e que aborda as várias manifestações da morte, testemunhos na primeira pessoa sobre reação à morte dos que nos são próximos, a eutanásia, com algum humor, por vezes, de forma a aliviar a carga. Poder-se-ia dizer, com toda a propriedade, fazendo uma apropriação do título de um dos capítulos: um Manual de instruções para viver com prazo de validade.
263 páginas que se devoram num ápice.
A ler.
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Brooke Didonato |
Quando ela se apercebeu dos primeiros sinais de demência do pai mudou-se para uma casa de pedra antiga, com três quartos em soalho, a última em condições, numa fiada de ruínas numa vila no interior, mais calma, solarenga, uma paisagem de artista, onde ele repetia sem cessar a história da bicicleta, prenda de passagem da quarta classe a que ela respondia de forma mecânica: “já me disseste isso três vezes! Hoje!” Antes tivesse um cancro, que fluía rápido, ao invés do esvaziamento progressivo da consciência e do carácter, de que ela já guardava poucos traços.
Ela achava que por já estar nos cinquenta só poderia ter papel de cônjuge se fosse personagem de romance, mas muito má era a sua história, sendo filha única, solteira por acidente e sem contacto com primos afastados por opção, sem lugar para protagonismo, só o sentido de humor lhe mantinha a estabilidade e as raízes de uma macieira viçosa.
A verdade é que nunca fora talhada para compartilhar uma vida sentimental, achava que o outro iria ocupar muito espaço na cama e na cabeça, mais o barulho e a confusão, as explicações, as arrelias, os odores na casa de banho e depois de toda a tolerância e cedência com o gosto e o interesse particular do outro, uma dia cansavam-se e vinha o eclipse. Não obrigado! Estou bem assim, o espírito enganado numa frase, anátema profundo da dor clandestina, mansamente aceite, enquanto sonhava com orgasmos em ditirambos como nas Dialécticas do Jorge de Sena, até ao dia em que, numa ida a Lisboa se cruzou com um antigo colega de Liceu à saída do metro, atrapalharam-se nas cortesias de educação sobre quem saía primeiro e ela perguntou-lhe para onde ia o túnel da saída norte, e ele, serenamente, respondeu-lhe que ia para onde pudessem construir um futuro juntos.
Ela achou piada e deu-lhe o braço…