quinta-feira, 2 de setembro de 2021

11 DE SETEMBRO

 


Caros leitores:


"Estamos a preparar o lançamento dos 13 livros da Nova Mymosa que ficaram por lançar desde a última apresentação de conjunto que a pandemia nos permitiu (e que teve lugar a 5 de Outubro do ano passado)."

Assim sendo, no próximo dia 11 de Setembro, sábado, a partir das 17 horas, no Pavilhão D39 (Editora Nova Mymosa) da Feira do Livro de Lisboa, terá lugar o lançamento das obras e uma breve apresentação.

Contamos convosco!

Até breve.

sábado, 24 de abril de 2021

A HORA DA POESIA - PODCAST

           


E mais uma vez não podia deixar de agradecer à Conceição Lima e à Rádio Vizela, a oportunidade de ouvir os meus poemas ganharem asas na voz da Conceição, da Ana Albergaria e do Carlos Revez, num programa que tem sido um suporte de partilha e divulgação de poetas e do seu trabalho.

Para quem não teve oportunidade de ouvir aqui fica o link do podcast:

https://www.mixcloud.com/Radiovizela/hora-da-poesia-programa-com-luis-bento-220421/?utm_source=notification&utm_medium=email&utm_campaign=notification_new_upload&utm_content=html



terça-feira, 20 de abril de 2021

HORA DA POESIA

 


HORA DE POESIA
Um programa muito aguardado depois de alguns adiamentos, quarentenas e desconfinamentos conduzido pela Conceição Lima, carinhosamente apelidada de "Madrinha dos Poetas".

"A cada quarta-feira, Conceição Lima apresenta um autor e a sua obra e este é um espaço que tem o seu fiel público que enche salas a cada sarau ou festa de aniversário. É já uma referência na marca cultural do concelho de Vizela. Desde os poetas mais consagrados, até aos que ainda se escondem atrás da pena, a autora do programa tem contribuído para a divulgação deste género literário e dos seus poetas que, através da “Hora da Poesia”, têm chegado aos quatro cantos do mundo."

Espero por vós, para falarmos de poesia, na próxima Quarta feira dia 21 de Abril, às 21 h, Hora de Poesia com este vosso autor.


sábado, 9 de janeiro de 2021

VERTIGENS


 


PARÁGRAFO


Ele veio com melancolia à nescença, mas era muito

esperto e, se tivesse sorte e Deus quisesse, havia

            de medrar e tornar-se num homem forte,

mas o destino não quis, morreu como um poeta: cedo

                                                               e sem dinheiro.

No intervalo do calendário ainda sobrou tempo para

                                                                um parágrafo.

Do meu últmo livro da Colecção Crateras da editora NOVA mymosa

Um especial abraço ao Luís Carmelo pela iniciativa!


domingo, 3 de janeiro de 2021

FOTOGRAFIA

 

Depois da morte do marido, o amor, resumia-se agora à inevitabilidade da memória de um passado que tinha valido a pena, a espraiar-se pelos filhos nascidos na Bélgica e as saudades que tinha daquele céu de chumbo, que convidava à leitura e reflexão no escritório aquecido, onde passavam largo tempo a olhar pela janela alta, em forma de ogiva com vitrais no canto, o relvado verde húmido onde alguns mais afoitos jogavam à bola de galochas.

Ela só queria voltar a encontrar alguém para partilhar a manta do escritório, dissertar sobre a apropriação artística da paisagem rural ou trocar ideias sobre A Montanha Mágica, ainda procurava nas redes sociais olhos para o seu corpo, sem resultado, as pessoas pensam que o insucesso se pega, a pele engelha e os dentes amarelecem até cair. Ainda tinha esperança num resto de vida a preços de oportunidade, fazer parte de uma história em que o elenco não saísse antes do fim, porque a morte, apesar de quase sempre separar mais vezes do que se pensava, doía menos se a levasse abraçada a alguém. Sentiu sempre a falta dele espalhada pela casa, especialmente na cama onde o amor a deixou sempre exausta e daí para cá esperou que aparecesse alguém para lhe baralhar a memória, que lhe fechasse as cortinas dos olhos e deitasse fora a chave dessa névoa passada em que fora gente.

Gostava de ter sido uma personagem de filme, uma qualquer, no cinema amava-se ou faziam-se coisas à distância com os olhos sem poiso certo ou com ele nas próximas cenas, com o público à espera do grand finale, mas era míope, custava-lhe a reconhecer um amor mesmo quando estava diante de si. Esbarrara no marido, literalmente e foi pelo cheiro, pelo hálito quente e neutro, depois foi uma questão de pele, arrepiava-se quando sentia os seus dentes nas costas, nos ombros, a puxarem-lhe o lóbulo da orelha, arrepiava-se ainda, sempre que pensava senti-lo em si, um só corpo com duas metades coladas.

Depois veio a doença, que pôs um ponto final numa frase inteira.

Aos poucos, desapareceu como funcionária, desfez-se como artesã deixando a meio as tapeçarias que ainda lhe davam alento, convivendo apenas com o vazio. O mal tomava forma nos insectos que apareciam na cozinha, não despejava o lixo com frequência diária e os pratos com restos de comida faziam fila na bancada. Estiraçada no sofá da sala, os dias eram iguais às noites, iluminados indirectamente pela televisão sempre ligada a que não prestava atenção. Não queria ajudas, preferia que não fizessem limpezas nem lhe mexessem nas coisas porque assim sabia andar pela casa sem sobressaltos ou acidentes, sempre fora assim desde que ficara a cargo da madrinha e engravidou na adolescência, mesmo a fechar o mês de Abril em setenta e dois.

E então, numa manhã quente de primavera levantou todo o dinheiro do banco, comprou um carro e fez-se à estrada, numa paisagem a animar-se na voragem com que as árvores perdem tamanho com a distância, até caberem dentro de uma fotografia.