Um excerto do meu artigo de Setembro na revista MEER.
Uma vida desarrumada como uma pintura abstracta
“ Ela tinha uma vida tão desarrumada como se fosse uma pintura abstracta, em que as formas se atropelam, se repelem, e escorrem umas sobre as outras, um desenho ou uma folha cheia de gatafunhos, que não se parecia com nada, nas suas formas irregulares, pontiagudas, sobrepostas, como se o mundo a tivesse cuspido ao acaso numa tela, e pronto, ficas assim, sem moldura nem parede que te acolha, vai-te habituando.
Sonhava com formas geométricas, não viajava, o mais longe que tinha ido fora à Malveira, faltava-lhe mundo, dele tinha apenas o que lhe chegava pelas notícias da televisão e que aquelas desgraças eram longe, muito longe, mais de um dia de viagem e isso dar-lhe-ia, com certeza, vómitos. Agoniava quando andava de carro. Onde suportava melhor a viagem era no lugar do pendura com a janela toda aberta e a cabeça inclinada para fora.”
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