quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

BITCOINS


WAYNE THIEBAUD




O meu tio, que na realidade era padrinho da minha prima e não nos era nada, mas nós tratávamos por tio porque tinha uma drogaria na rua de Campolide mesmo junto ao Tarujo, perto de um quartel e ganhava muito dinheiro, dava-me uma sandes de torresmos e oferecia-me uma Laranjina C sempre que eu ia para lá ajudar depois de sair da escola e de fazer os trabalhos de casa. O meu tio era alto, entroncado e com fortes traços de cavalgadura e tinha casado com a dona Antónia, atarracada e minúscula em modo redondo carica, que chamava "Pilips" à sua televisão, porque, desconhecia ela, o PH, para além de medir o grau alcalino, também se lia F como na farmácia do tempo do Eça de Queiroz. O aparelho de televisão era enorme, pesado, com naperonzinho no topo para resguardar do pó e um pequeno castiçal com velas para dar graça, colocado no quarto de dormir sobre a cómoda onde, todas as noites de quarta-feira viam filmes Danny Kaye enquanto ele se aliviava, sem apelo nem agravo, da flatulência, nos intervalos em que ela ia à cozinha buscar bolachas Maria. O meu tio vendia sabão azul e branco em barra, carvão e petróleo a granel e pacotes de cera búfalo, mas aquilo era tudo muito pesado para as minhas costas, tanto que comecei a ficar com a coluna torta, tão torta que o médico disse-me que eu deixei de ter coluna e passei a ter colina. Ainda hoje sofro de dores e náuseas por causa do tempo que passei perto do meu tio quando ele fumava uns cigarros Kentucki mata-ratos que o deixavam sempre a rir. Vem esta conversa a propósito das Bitcoins porque eu prometi à mina mãe querida, à Ágata e ao Roberto Carlos que ia ser alguém na vida, mas como sofro das costas, acabei a trabalhar num banco durante 25 anos e fiquei a perceber a importância do dinheiro… Só Karl Marx com o seu materialismo dialético e a exploração do homem pelo homem estava certo: Tudo o que existe, e move o mundo, é material! Tudo o que existe e é material, e faz mover o mundo, leva à exploração do homem, assim, se desmaterializarmos, na essência e na substância, aquilo que faz mover o mundo, conseguimos explorar o homem sem necessidade, sequer, de Halibut…é a essência e a substância das Cryptomoedas. E prontos!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CAPITALISMO E CONTOS DE FADAS




E é assim que a sociedade moderna mata o sonho.

Branca de Neve dona de casa com os filhos à ilharga, o Príncipe nas "bejecas", não falta a televisão e as batatas fritas, algures, por ali, deve andar perdido um smartphone  e algumas contas por pagar.

MCDONALD´S






Alô? Era um menu Big Mac com batatas extra, Cola e um Sunday de chocolate, por favor!


McDonald’s. Agora o seu Big Mac pode ser entregue em casa



DESPRENDIMENTO






Ainda murmuraste algo sobre o tempo, o espaço e a verdade.


Enrolaste-te e adormeceste.


Desliguei as luzes e desprendi-me, em silêncio, dos teus sonhos.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

POLITIQUÊS




Alavancar e elencar são, a par com implementar, verbos de relevância fundamental no discurso, que um bom político não pode dispensar. Bom, subentenda-se, no sentido de bom para ele próprio, homem de fibra com muita resiliência, preparado para o stress dos timings e dos feedbacks, numa conjuntura apertada e envolvente, cujo contexto apresenta uma problemática exigente, mas nada que um briefing com os colaboradores, depois de enumerar prioridades e estabelecer compromissos, não resulte numa estratégia de curto prazo com definição de metas e objectivos, para resolver a problemática dos diversos sectores abrangidos pelo responsável, que irá definir, monitorizar e partilhar tarefas, de modo a dar resposta cabal ao tema através de medidas adequadas para o efeito e cumprir, escrupulosamente, com o respectivo deadline sem ultrapassar a linha vermelha do budget.

Perceberam?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

ESTADO DE SECA




E "prontes!" O estado de seca extrema continua a assolar o país com especial incidência na região do Carnide. Duas Matrioskas de Moscovo para mais tarde recordar... 






sábado, 18 de novembro de 2017

DOMESTICÁLIA




Um livro que ensina a pôr na linha a criadagem e a manter o tampo da sanita quente para o senhor, a piscina limpa, sem folhas nem carumas, as pratas e os ouros a brilhar com "Duraglit", qual enfeite de Natal do Cascais Shopping, casas de banho passadas a escova de dentes nas juntas entre mármores de Carrara e uma quantidade de conselhos práticos para a arte de bem servir, é uma peça do mais fino recorte literário que vai vender "cmó caraças"...

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

MARCELO



Imagem de João Bizarro


Ele dá abraços, beijinhos, faz pantominas, dá recados e, porventura, bolhinhas com a boca. Kit Marcelo, a prenda ideal para o Natal.

A imagem é de João Bizarro e caiu-me nas mãos. Foi uma prenda!



domingo, 5 de novembro de 2017

CORPO-ROCHA






Era um tipo mais-ou-menos, que levava uma vida assim-assim, com falta de espaço na lembrança de que tudo era denso, única forma possível de habitar o corpo-rocha.

DO OUTRO LADO DO ESPELHO




Do Outro Lado do Espelho, título que remete intencionalmente para o mundo de Alice Liddell, a heroína de Lewis Carroll (1832-1898), é uma exposição temática, que tem o espelho como foco principal e que pretende demonstrar a sua presença polissémica na iconografia da arte europeia, sobretudo na pintura, mas também em obras com outros suportes, como escultura, arte do livro, fotografia e cinema.
Curadoria: Maria Rosa Figueiredo com a colaboração de Leonor Nazaré
"Grátes" aos domingos... Até Fevereiro 2018

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

SEMÂNTICA


Malika Favre

Ele era poeta e escrevia-lhe cartas, dezenas delas, por sinal, constantemente rejeitadas.
- Cheias de erros ortográficos - Dizia ela.
E ele corrigiu a ortografia e acrescentou metáforas, antíteses e outros artifícios de estilo.
- Palavras sem sentido! - Respondeu-lhe, agora, sem entusiasmo.
E assim se perdia o amor por via da semântica.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HEIN SEMKE



Hein Semke

"O certo é que se dizem as coisas um bocado antes da fúria. Somos assim, os portugueses, a nossa pacatez é uma alma cristã um bocado antes da fúria."

valter hugo mãe, In JL 23/12/2015

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

ILESOS




 




Ele era de luas, apetites, fragilidades e mau feitio… 
Ela aceitava gritos, desculpas e o facto de ele ser mesmo assim. 
Ele ofereceu-lhe pomada para as nódoas negras, ela deitou-lhe veneno na sopa. 

Há corpos onde pertencemos… e outros de onde não saímos ilesos.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O QUE IMPORTA



 



É como diz o outro: 

" O que importa é o que interessa e o que interessa é que é importante..."

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

terça-feira, 17 de outubro de 2017

WALTER HUGO MÃE



Lucie Birant em cargoncolective.com


"Os milagres são a pura realidade. As pessoas e a possibilidade de, no fim do dia, sermos como crianças outra vez. Dispostos a arriscar e a sofrer tudo de novo, para perdurarmos juntos."

valter hugo mãe, In JL 6/1 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

PERSPECTIVAS





Perspectivas...

TARDE







Foi numa tarde cinzenta, de despedida, que te guardei e é aí que, de vez em quando, te vou buscar. Sinto a respiração profunda e o um certo alívio ao fechar os olhos e fingirmos que nada aconteceu.

FOLIO





Começa Hoje!!

A terceira edição do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos até 29 de Outubro, sob o tema Revoluções.

A programação completa do FOLIO está disponível aqui e informações adicionais podem ser consultadas na página Óbidos Vila Literária.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

TRANQUILIDADE



Martin Wehmer

A razão envenena a tranquilidade e o tédio agarra-se ao corpo como réptil viscoso, porque não desce o anjo a anunciar a inutilidade da impaciência já que tudo é curto e finito?


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

MADONNA NAÇÃO VALENTE







Por estes dias, os jornais mostram uma Nação Valente que se levanta com o futebol, que já se esqueceu de Pedrógão, da dívida, da seca, mas que não perde um episódio da Madonna em Portugal a fazer lembrar os livros da Anita: Madonna tossiu, Madonna espirrou, Madonna procura casa, Madonna monta a cavalo, Madona ficou feliz com a selecção. neste rectângulo provinciano a correr em grande lufa-lufa, rapidamente e em força, a caminho do Portugal dos Pequeninos!

terça-feira, 10 de outubro de 2017

A CASA DAS LETRAS



Lourdes Castro, Palavras e duas casas, Gulbenkian

Uma casa é uma máquina de morar.

Le Corbusier 


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O NOBEL DA LITERATURA






"Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas."


António Lobo Antunes


Não, não foi para o Lobo Antunes, o Nobel foi para Kazuo Ishiguro - "Para fazer o mundo feliz". Desta vez, sem direito a viola ou harmónica...

A ÚLTIMA CENA





Photo by Tom Barrett on Unsplash


Nem chegou a saber o que aconteceu no jantar. 
Uns acordes de jazz, Miles Davis a acompanhar bebida e discussão,
uma dor de cabeça, outra de alma 
e os olhos vazios presos na última cena.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

domingo, 24 de setembro de 2017

A FÁBRICA DE NADA



Exposição Portugal Flagrante Centro de Arte Moderna Gulbenkian


Hoje fui ver A Fábrica de Nada, em conjunto com Eu, Daniel Blake e São Jorge completei a trilogia em torno de um maior denominador comum: o desemprego. Se em Eu, Daniel Blake nos sentimos esmagados perante a falta de sensibilidade da funcionária da Segurança Social imune ao desespero de quem espera uma resposta, uma solução ou um milagre e se em São Jorge nos confrontamos com o mundo dos abutres das "cobranças difíceis, em A Fábrica de Nada expõem-se causas, dramas, conflitos no interior da engrenagem capitalista, no seu ritmo inexorável de confronto e derrube de qualquer tentativa de resistência, assistimos ao discurso dos trabalhadores cuja única exigência é ter trabalho, ao discurso dos intelectuais sobre o fetichismo mercantilista, da actualidade de Marx, blá, blá, blá, do protagonismo do tempo, personagem pesada no drama do desemprego. No final,  abre-se uma porta de esperança na figura  da auto-gestão, no confronto discursivo entre o trabalhador e o intelectual no acerto de contas social que resume tudo a uma única frase: A divisão não se faz, hoje, entre Esquerda e Direita, mas entre os que querem viver no sistema e o aceitam, ainda que em regime de escravatura e aqueles que estão dispostos a abdicar dos telemóveis , dos carros e do conforto capitalista, luta inglória num tempo em que cada vez há mais gente a querer passar para o outro lado, num mundo em que a vida particular se desmorona para além do dinheiro e da crise, do divórcio e dos amigos que se evaporam, dos colegas iludidos na velha máxima de que só acontece aos outros, mas ela está aí, a porta entreaberta de esperança, indicada no filme com um caminho a seguir: Resistimos? 

A não perder.