WAYNE THIEBAUD
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O meu tio, que na realidade era padrinho da
minha prima e não nos era nada, mas nós tratávamos por tio porque tinha uma
drogaria na rua de Campolide mesmo junto ao Tarujo, perto de um quartel e
ganhava muito dinheiro, dava-me uma sandes de torresmos e oferecia-me uma
Laranjina C sempre que eu ia para lá ajudar depois de sair da escola e de fazer
os trabalhos de casa. O meu tio era alto, entroncado e com fortes traços de
cavalgadura e tinha casado com a dona Antónia, atarracada e minúscula em modo
redondo carica, que chamava "Pilips" à sua televisão, porque,
desconhecia ela, o PH, para além de medir o grau alcalino, também se lia F como
na farmácia do tempo do Eça de Queiroz. O aparelho de televisão era enorme,
pesado, com naperonzinho no topo para resguardar do pó e um pequeno castiçal
com velas para dar graça, colocado no quarto de dormir sobre a cómoda onde,
todas as noites de quarta-feira viam filmes Danny Kaye enquanto ele se
aliviava, sem apelo nem agravo, da flatulência, nos intervalos em que ela ia à
cozinha buscar bolachas Maria. O meu tio vendia sabão azul e branco em barra,
carvão e petróleo a granel e pacotes de cera búfalo, mas aquilo era tudo muito
pesado para as minhas costas, tanto que comecei a ficar com a coluna torta, tão
torta que o médico disse-me que eu deixei de ter coluna e passei a ter colina.
Ainda hoje sofro de dores e náuseas por causa do tempo que passei perto do meu
tio quando ele fumava uns cigarros Kentucki mata-ratos que o deixavam sempre a
rir. Vem esta conversa a propósito das Bitcoins porque eu prometi à mina mãe
querida, à Ágata e ao Roberto Carlos que ia ser alguém na vida, mas como sofro
das costas, acabei a trabalhar num banco durante 25 anos e fiquei a perceber a
importância do dinheiro… Só Karl Marx com o seu materialismo dialético e a
exploração do homem pelo homem estava certo: Tudo o que existe, e move o mundo,
é material! Tudo o que existe e é material, e faz mover o mundo, leva à
exploração do homem, assim, se desmaterializarmos, na essência e na substância,
aquilo que faz mover o mundo, conseguimos explorar o homem sem necessidade, sequer, de Halibut…é a essência e a substância das Cryptomoedas. E prontos!