domingo, 7 de junho de 2015
quinta-feira, 7 de maio de 2015
REVISTA VIA LATINA
E foi assim que aconteceu... Ontem, 6 de Maio de 2015, na Casa de Artes Bissaya Barreto, o lançamento do 12º volume da VI série da revista Via Latina,
da Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (AAC),
sob o tema da Semana Cultural da Universidade de Coimbra: Tempo de
Encontro(s).
Um orgulho imenso poder partilhar as minhas palavras numa publicação de grande qualidade e prestígio, num projecto sóbrio, com uma composição gráfica irrepreensível e...
em muito boa companhia... António Pinho Vargas, Onésimo Teotónio Almeida, Secretário de Estado Jorge Barreto Xavier, Jao Rasteiro, Paulo Guinote e tantos outros e as palavras sábias e bem humoradas do Professor Doutor Rui Alarcão.
Grato à Rafaela Carvalho e ao Paulo Sérgio Santos.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
segunda-feira, 16 de março de 2015
PELO LADO DE DENTRO
Egon Schiele |
Procuro seguir a vida pelo lado de dentro fazendo as
curvas com cuidado. O desejo tem sempre muita pressa e eu gosto de abrandar, de
ver pelo avesso, de contar pelos dedos as vezes que o passado nos marcou a
vontade ou a falta dela, a perda, o desleixo. Fui-te remendo, pedaço, cola,
nota de rodapé, derivação regressiva do verbo amar... E isso já não me basta.
Incomoda-me não ser eterno, não ter certezas, não conhecer Marte, não acabar a
nossa história com um substantivo concreto. No movimento entre o barco e o
cais, não somos nós que partimos, é o mar que chega. Dispo, então, o meu melhor
poema que foste tu a sorrir a meu lado com cheiro de manhã. O silêncio é a
nossa deixa para seguir viagem. Do corpo não se guarda nada, apenas a memória
que sobra do momento em que o suor foi magia.
sábado, 7 de março de 2015
PATÊ DE SALMÃO
Gabriel Isak - Shadow and Shelf |
Chegou ao vilarejo já de madrugada. Uma madrugada fria, húmida e a ameaçar chuva. Redundância óbvia dos rigores do inverno. O telefonema fora lacónico: O velho bateu as botas. Vem para cima que se faltares parece mal. Em boa verdade, meter-se ao caminho de noite, perder-se na conversa fiada do taxista para santa Apolónia, desesperar no embalo lento do regional de Castelo Branco e enjoar mais trinta kilómetros, para Cebolais não era o seu ideal de fim de semana. Às cinco da manhã, resfolegava no saco-cama no meio da sala, em casa da prima, para recuperar um par de horas para o funeral. Para trás deixara projectos de trabalho, leituras, meia dúzia de coisas com importância para tratar e as chaves de casa na vizinha, para dar de comer ao gato e aos periquitos, que açambarcavam queixas e protestos de quem não podia mais com o ruído aos domingos de manhã, com as penas, com o pó, com a alpista no parapeito e os cócózinhos que deixavam marcas, pior que pontos de ferrugem, na roupa estendida. O gato era a sua predilecção, resgatado aos contentores do lixo de uma fábrica em ruínas com tiques e trejeitos de cão a quem tinham baptizado de Jardel, Pimpas, Michifu, Renault e Látex vingando, no final, um patusco Baltasar por ter devorado, em tempos, um bolo-rei quase por inteiro. Deitava-se no tapete do hall de entrada quando ele saía para o trabalho e ali permanecia, enrolado, saltando-lhe para o colo quando chegava, aninhando-se, a ronronar com a intensidade do trabalhar do motor do frigorífico. Tinha começado a chover, e ele a enterrar os sapatos na lama enquanto recordava o avô nas palavras do padre, protegido pelo guarda chuva seguro pelas mãos rugosas do Firmino ferreiro, amigo extremo, que sempre o alertara, em vão, para não se deixar embarretar pelos ciganos no negócio dos cavalos, luzidios, tingidos de preto-alazão, a desmaiar no castanho baço da primeira barrela, com falhas no pelo e dentes estragados. Parecia mal falar nisso. Parecia mal não aceitar boleia do tio, parecia mal a filha do Zé da Guarda que fugira com um homem sem ter casado. Parecia mal não dizer adeus, não aceitar as couves, o azeite, o pão de centeio, a aguardente de medronho e o sorriso genuíno daquela gente que achava que o futuro estava no fim do alcatrão para Lisboa. Aceitou a boleia. A chuva tinha recomeçado a cair, miúda, silenciosa e o nevoeiro cerrara-se, traiçoeiro, a fechar em demasia nas leis da física, uma curva apertada e o carro a resvalar na ladeira, a desmanchar-se e a retorcer-se em ferros, pneus e estilhaços. Os periquitos... Era preciso ter cuidado para que não fugissem pela portinhola avariada, presa por um clip à base de plástico. E o gato... A comida do gato... Salmão! Ele gosta de patê de salmão, daquele barato, de lata redonda da mercearia do senhor Eurico...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
TODA MUJER QUE SE PERFUME ES UNA FORNICADORA
http://www.libertaddigital.com/espana/2013-07-24/un-iman-en-la-television-ceuti-toda-mujer-que-se-perfume-es-una-fornicadora-1276495974/
Este é um espaço multi-disciplinar de arte, cultura, literatura, humor e intervenção. Raramente nos debruçamos sobre temas de índole política ou religiosa, mas, exactamente por ser um espaço de intervenção, não poderia deixar passar em claro as afirmações de uma imã de Ceuta sobre mulheres, perfumes e fornicação depois dos célebres bonecos de neve contra o islão e das tão propaladas, mil chicotadas ao blogger Raif Badawai.
Alegam os filósofos que a filosofia surgiu do espanto... Tudo começou quando alguém se espantou com um acontecimento e formulou uma questão, daí advindo a filosofia. Pois eu não consigo espantar-me com os dislates deste senhor nem formular questões de dialéctica teórica e aplicada, mas consigo questionar-me sobre a necessidade destes indivíduos promoverem constantemente, o achincalhamento, o incitamento à ameaça e ao ódio num momento em que se pretende evitar clivagens e futuros actos de retalição ou vingança. Acredito que este imã e outros da mesma espécie possam sentir repulsa pelo desbaste das ressequidas barbichas e demais apêndices capilares, quiçá, a essência de pivete seja o perfume mais natural e largamente usado entre as hostes e que tal seja o suficiente para atingir o êxtase e o nirvana sem necessidade de fornicação até ao patamar em que, um dia, elevados pelos mais excelsos fragores de bombas e granadas, consigam visualizar uma nesga de calcanhar erótico de uma das famosas 76 ou 78 virgens ( que eu nunca fui bom a matemática). Agora, podiam poupar-nos a tamanhos dislates e cuidar de evitar práticas de castigo dignas da idade média donde, pelos vistos, ainda não saíram. Chicotear mil vezes, em suaves prestações de 50 chibatadas numa praça pública, um blogger que pugnou pela liberdade de expressão como é o caso recente da Arábia Saudita, é sinónimo da mais profunda e abjecta barbárie que se diluirá, apenas, na memória daqueles que trocam a sabedoria, o conhecimento e a elevação por um poço de petróleo. Infelizmente, não vemos ninguém, das comunidades muçulmanas combater, a partir de dentro, este tipo de práticas, independentemente da questão cultural, há coisas que nem o perfume mais excelso conseguirá disfarçar. Como diria o director do Charlie Hebdo, é preferível morrer de pé a viver de joelhos a vida toda e, muito francamente, depois da ameaça e do horror, sobra-nos, em frontalidade, aquilo que nos falta em paciência para esta gente...
sábado, 25 de outubro de 2014
CORPO
É fundamental
ser-se livre, ainda que, só de vez em quando, para poder fugir ao tempo, esse
eufemismo pós-moderno, algoz ou
carcereiro, da prisão em que se tornou o
nosso corpo.
sábado, 4 de outubro de 2014
MAPA
Parte de mim perdeu-se nas palavras, a outra parte perdeu-se mais três
ou quatro vezes na busca do amor, jornada longa pela memória sem reticências,
luz ou farol. No final, se me encontrares, não procures pela biografia. Deixei
um mapa...
segunda-feira, 9 de junho de 2014
ÂNGULO
E tudo começou com uma amizade comum, uma troca de mails e " um álbum intitulado "partnerships", com o objectivo de
convidar escritores a complementarem as minhas fotos com um texto, prosa
ou poesia. Aquilo que preferirem." E saíu um texto que penso ser a moldura certa para uma imagem perfeita.
Preferia a chuva, especialmente
miudinha, ao azul inofensivo das manhãs de verão. Preferia o subtil equilíbrio
entre o Douro pincelado de luz e as tardes de outono cinza na cidade, ao esquisso desmaiado dos nenúferas de Monet.
Meio a sério meio a brincar, achava que o seu melhor ângulo ainda não tinha
nascido e, por isso, não ficava bem nas fotografias. Gostava do amargo do
vinagre no fundo da língua, de versos sem rima, de Saramago e de fotografias a
preto e branco, mas do que gostava mesmo era de gastar o tempo a fazer os
outros felizes. A isso, chamava-se amor.
POST IT - O LIVRO DO JÚLIO PINHEIRO
Foi em 2009 que começou a minha aventura pelos blogs e uma aventura, maior ainda, pela descoberta de gente fora de série que, felizmente, ainda perdura nos círculos de amizade. O Jorge Pinheiro , do blog Expresso da Linha publicou o seu Post it. , vai lançá-lo na sexta-feira dia 20 de Junho e nós vamos estar lá.
Abraço Jorge Pinheiro
sexta-feira, 23 de maio de 2014
quarta-feira, 9 de abril de 2014
O BARULHO
Quando
eles se separaram ela pediu-lhe que levasse quadros, livros, molduras,
estrelas, noites bravas, os vizinhos de cima, músicas, tardes de domingo sem
graça e lhe deixasse apenas o silêncio. O amor não faz barulho...
segunda-feira, 31 de março de 2014
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
DECIFRAR AS PALAVRAS
Ahmed, 7 years old, stands before a Free Syrian Army stronghold in
The Huffington Post
|
“Espero uma espécie de alma gémea do outro lado
do texto”
Mário de Carvalho
Olho para trás com vontade
de corrigir o passado e percebo que nos habituamos a não ter sido. Se fechar os
olhos, por instantes, fico a uma distância segura da memória e do medo num
universo que achava infinito e renovável, espécie de física quântica ou de tijolos
sobrepostos a emparedar a nossa ingenuidade e pergunto-me se alguma vez
estivemos completos ou se passámos a vida a apanhar cacos desde a
infância.
Pego no papel e lápis e
procuro, nas palavras, encurtar o abismo que nos separa, nesse cansaço de fim
de tarde, sem conseguir explicar porque ficou o coração apertado assim tão de
repente e tão difícil de decifrar. Sonho somar rugas, cicatrizes, marcas, lastro
que o tempo larga em dias mansos, perder
os meus limites à espera do milagre, do fim da novela, ou da Ressurreição no teu
corpo. Estou
sempre de partida e sem destino, homem brando a levar a vida em banho-maria, a
sentir o corpo ausente, a desejar que o remorso fosse pedra para poder lançá-la
e aliviar a carga. Em sonhos, viajo para muitos lugares, para longe e durante
muito tempo e fico o mesmo, sem certezas geográficas, nomes ou aritméticas.
Assim eram os pássaros.
Toda a realidade se dissolve numa abstracção de
Schiller ou Kant... E depois fico assim, parado a meio do texto, sem ideias ou
vontade, à espera que ele se escreva sozinho. Fumo um cigarro e penso que o
universo é uma dialéctica entretida a subtrair coisas boas do teu sorriso e a
fazer-nos viver com a diferença. O dia não ajuda. Está frio e cinzento, vai
chover e não trouxe guarda chuva. Oiço baixinho uma música do Einaudi. Deixa-me
assim no rame-rame de uma melancolia doce, politicamente correcta, aceitável,
se assim se poderá dizer. Certo é que
continuo sem produzir.
Olho para a
frente e vejo que o céu está cheio de pássaros e percebo, então, que ganho asas quando
escrevo, que a moral da história está naquele
livro que nunca lemos, e que decifrar estas palavras é repeti-las no tempo e no
espaço, em que o amor é a nossa única liberdade...
domingo, 2 de fevereiro de 2014
GRUPO LEYA
A Leya soma e segue e consegue o pleno! Por um lado,
empurra, alegremente, os autores consagrados para a concorrência (Saramago,
João Tordo, Richard Zimler, Miguel Sousa Tavares) por outro, não abre as
portas aos novos. Atente-se no mail recebido,
recentemente, da editora da D.quixote,
chancela do grupo Leya:
“ Muito obrigada pela sua mensagem!
Uma vez que é a minha colega M… quem se ocupa
da publicação de novos autores nas chancelas do grupo LeYa, aconselho-o a
escrever-lhe enviando-lhe a sua proposta. Estou certa que ela a acolherá com o
maior interesse.
Cordialmente,
… Dom Quixote “
Ou seja: Se o responsável pela análise
editorial tiver preferência por uma certa
lógica ou estética narrativa, o seu interesse estará formatado para um
determinado tipo de escritor à semelhança daqueles que descobriu nos últimos
tempos tornando, assim, o envio de um manuscrito para a D.Quixote , para a Oficina do livro ou outra chancela do
grupo, igual à compra de um sabonete de alfazema e óleo de amêndoas
doces no Pingo Doce ou no Continente. Estranha, esta estratégia comercial do
engenheiro Paes do Amaral. Fechar a porta aos novos e empurrar os velhos, é morrer mais cedo... Assim como o país, de resto...
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
LIVROS & LEITURAS
Livros & Leituras ė uma revista literária de grande qualidade, pretígio e com muito dinamismo. Um espaço vivo, de partilha e divulgação de novos e velhos autores. Depois da referência ao Lusitânia Online na semana anterior foi publicada, hoje, a entrevista a este autor que reconhecidamente se congratula com a oportunidade. Uma entrevista com uma ponta de ironia e humor como não podia deixar de ser. Aos administradores da Livros & Leituras o meu sincero agradecimento.
Quem é?
Quem sou? Há 48 anos que procuro responder a essa questão. Nem o Freud explica… (risos) Mas na parte que me conheço , para além do humor afiado e da resposta pronta, licenciei-me em Línguas e Literaturas, fui professor e tornei-me bancário. Alinhavei algumas letras e parágrafos em suplementos literários de jornais durante a década de 80 e administro, actualmente, o blog bento-vai-pra-dentro-bento.blogspot.com, onde publico textos de prosa sobre diversos temas, ligados à crítica de costumes, onde se reflecte sobre a sociedade portuguesa contemporânea. Participei na Coletânea Balaio de ideias e publiquei em edição de autor no Brasil, o livro Lusitânia Online.Continuo a alinhavar letras e parágrafos em colaboração dispersa em revistas nomeadamente na versão portuguesa da The Printed Blog. Em 2012 tive um conto premiado e publicado nos Novos Talentos FNAC da literatura, tenho
um romance pronto para editar ( Verde, código verde – Um português a fazer de Deus) e continuo, teimosamente, a escrever na antiga ortografia.v
Como e quando começou a interessar-se por literatura?
A necessidade e o interesse pela leitura e pela escrita manifestaram-se desde muito cedo. Depois de devorar, em pequeno, uma infinidade de livros sem descriminar géneros ou estilos, para além das leituras “normais” para a idade comecei também a despertar para as histórias que a minha avó contava baseadas nas novelas do Camilo. A leitura e a escrita acompanharam a minha adolescência onde o interesse pelo Português marcava já uma predominância sobre todas as outras disciplinas. A dificuldade na geometria e na aritmética e um excelente professor de Português no Liceu Pedro Nunes fez o resto…
Por que motivo resolveu escrever livros?
Pelo mesmo motivo que me leva a beber água ou a dormir… Uma necesidade! De início, talvez para esconder uma certa timidez que me levava a ser avesso a falar em público ou expressar-me oralmente e a ter maior facilidade em comunicar por escrito, mas rapidamente me afeiçoei à palavra escrita, à sua durabilidade e plasticidade. A escrita é a forma que encontrei para agitar as consciências, para despertar os outros, através dos pequenos episódios do nosso quotidiano formatado para o consumo.
Qual foi a obra que mais gostou de escrever e porquê?
Para além do conto publicado nos Novos talentos da literatura FNAC 2012 (Fashion Heroine) e alguns contos do Lusitânia Online (edição de autor publicada no Brasil) o Manucrito Verde código verde. O primeiro retrata a submissão de um casal ao seu fado e de uma mulher que, em ditadura, consegue (literalmente) estilhaçar essa submissão e obviamente, também pelas palavras elogiosas de Valter Hugo Mãe sobre o mesmo. Quanto ao manuscrito... Agrada-me por ser uma história de resistência. Uma crónica que decorre em dois planos distintos: período revolucionário de 74 e no verão de 2012. O encontro entre antigos companheiros num jantar de evocação de memórias. Um percurso em busca dos amigos por parte do protagonista, por vezes amargo, por vezes irónico que o faz descobrir-se e descobrir que é um inadaptado à efemeridade dos tempos modernos. Uma existência vertiginosa a esgotar-se em gadgets, créditos e prestações. A imbecilidade progride na proporção do crédito concedido. Deixaram de ser genuínos e absorveram carácter massivo e imparável da cultura de globalização. No final, resta o desencanto com o rumo da revolução numa geração a atravessar a crise da meia idade. E resistente também por insistir na sua publicação...
Em que é que se inspira para escrever um livro?
No ser humano! No seu grau de exposição e fragilidade. Na imagem de pessoas frágeis à superfície que desconhecem a sua força. Gente que vive ao nosso lado e tem problemas grandes, pequenos, sérios, caricatos. Na ironia do quotidiano, acima de tudo na nossa capacidade de nos rirmos da nossa história recente fértil em disparates...
Se não fosse escritor, o que gostava de ser?
Bancário não faria parte das opções, seguramente. Não vejo outra opção para além da escrita, actividade a que gostaria de imprimir um cunho profissionalizante...
Quais são seus autores preferidos?
Tantos e tão díspares. Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe, pela densidade psicológica das personagens, pela teia de enredos ora espessos, ora de uma simplicidade brutal. O artifício do trabalho literário. A escrita sai num jorro encadeada e enredada em pensamentos crus, irónicos, pequenas histórias, delírios em ritmo intenso e contínuo. No final, a revelação do conflito interior do personagem ou do narrador. Luís Sepúlveda pela capacidade de efabulação, Miguel Torga pela ligação telúrica, pela palavra pesada e trabalhada no sentido de descrever as condições das gentes da terra, reminiscências da juventude na aldeia.Os neo-realistas pela forma de resistência ao regime, Teolinda Gersão, Lídia Jorge, Proust, Margerite Yourcenar...
Que conselho daria a alguém que deseje vir a ser escritor?
Aqueles que continuo a repetir-me... Ler muito, escrever mais ainda, persistir com entusiasmo, acreditar sempre! Fazer uso das ferramentas informáticas, das redes sociais, participar, intervir, ter uma causa para escrever, encontrar o modo, o tom e contrariar o desinteresse dos agentes literários. Havendo público, o escritor de causas, mais tarde ou mais cedo, terá o seu lugar na literatura.
Para quando um novo projecto editorial?
Terminei a revisão e reescrita do Verde código verde, continuo a acreditar que é um projecto viável a nível literário e comercial, rompe com alguns canônes e é um projecto bem humorado e com sensibilidade. De qualquer forma comecei a trabalhar noutro projecto que já vai com algum vanço. Um romance sobre uma escritora que reside na ilha de Chipre, a maior parte do tempo, numa antiga casa de pedra no sopé das montanhas e que terá, de uma vez por todas, que acertar contas com o seu passado... Não tinha a intenção de visitar a Sicília naquele verão, mas o convite para participar num filme parecia muito excitante, uma oportunidade a não perder. A vida tinha corrido tranquilamente no último ano e ela pensou renovar velhas amizades e conhecer um punhado de estrelas de cinema de renome. Havia um pequeno senão... Anos antes, tinha sofrido uma experiência traumatizante naquele mesmo local - um encontro que pensou estar ultrapassado. Mal sabia ela que a morte acidental de uma bela e jovem atriz durante as filmagens a arrastaria, uma vez mais, para uma espiral de acontecimentos fora de controle. Acidente ? Assassinato? Disposta a resolver o mistério, mas em fuga de um passado que queria esquecer, acaba por se cruzar com um administrador bancário, também ele em fuga, com um segredo perigoso e muito dinheiro para pôr a salvo. Uma viagem pelo mediterrâneo que os trará ao sul de Portugal onde pensam resolver o mistério, mas onde a pacatez e o bucolismo da paisagem apenas esconde uma provação ainda maior... Um projecto com um enredo atractivo, uma narrativa onde predomina o equilíbrio entre o sarcasmo, o suspense e a sensibilidade e com personagens das quais vamos querer ficar a saber o final da história...
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
SÍTIO FASCISTA
"Certamente ainda não se apercebeu mas verifico que os artigos aqui publicados estão vedados aos comentários livres de censura (visto prévio), o que constitui uma ameaça à liberdade de expressão, pelo que vou inserir este sítio na Lista dos Sítios Fascistas na Internet, em: http://fascistas.blogs.sapo.pt Por favor, dê liberdade aos leitores do seu blogue, assim os RESPEITANDO, e depois comunique a alteração para ser retirado da lista negra. Note que se aceitar todos os comentários, sem prévio controlo, pode sempre, mesmo depois de publicado e quando quiser, apagar todos os que quiser, mas não faça censura prévia, por favor. Liberte-se a si e as seus leitores. (lrasnra@sapo.pt)""
Assim rezava o teor do comentário ao último post deste blog... Já me pregaram partidas no passado e cheguei a ter alguns dissabores. Quem anda à chuva molha-se e quem se dedica à escrita tem que se sujeitar a críticas, gostos e opiniões, mas esta não lembrava ao diabo... Colocar o nosso blog Bento-vai-pra-dentro, numa lista de sítios considerados fascistas onde, entre outros, pontificam blogs credíveis de todos os quadrantes políticos e de temas muito diversos só me pode fazer esboçar um sorriso e congratular-me com a excelente companhia do "Arrastão", do blog do Paulo Pinto Mascarenhas, dos "Jardins suspensos" e do "Clube de pensadores". Obviamente que cada um é livre de se expressar, pensar e opinar, contudo, gostaria de ver a mesma preocupação relativamente aos insultos, ameaças e o chorrilho de banalidades com que normalmente somos mimoseados...
A ser lido aqui: http://fascistas.blogs.sapo.pt/260.html
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
ALGURES... NUMA PAREDE DE LISBOA
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
RESET
Atravessamos a tempestade
perfeita… Para além da mediocridade crónica da classe política, assistimos
também à degeneração da intelectualidade, supostamente progressista, da nossa
praça, aburguesada e perdida em serões e tertúlias, lentamente imolada na
fogueira das vaidades, do croquete e do pastel de nata. Uma juventude alienada
ou em debandada para o estrangeiro, um povo refém do liberalismo consumista,
sem vontade, anestesiado pelos fait divers do futebol e outras personagens de
pacotilha. É na dureza dos conceitos que reside a verdade e dizer a verdade é a forma mais revolucionária
de dar sentido às palavras. De outra forma não evitamos o vazio e, com ele, não
saímos do lodaçal…
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
DA LITERATURA
http://novaziodaonda.wordpress.com/page/4/ |
Depois do naufrágio... texto literalmente caído do céu...
- Então, sr. dr., o que recomenda, Prozac? - Não. No seu caso, só Balzac. - E álcool, posso beber? - Meio Bukowski ao jantar, mais nada. - E se não resultar? - Ó homem, não se preocupe, esta receita é perfeita para si. - Mas… e se não resultar? - Bem, em último recurso, mas só mesmo como última hipótese, meia Alexandra Solnado e seja o que Deus quiser.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
NAUFRÁGIO
Sentia o vazio
absoluto nas escolhas, no riso e na falência das
palavras. O corpo em silêncio guardando apenas a lembrança doce, a repetir-se
com inquieta resignação, do tempo em que ela lhe pedira para voar e ele se
esquecera onde deixara as asas. Envelhecer era ver as coisas crescer por
dentro, metáfora lenta do amor, terrível subordinação à linguagem. Gostar de ti
era, então, uma gramática sem excepções a perder-se no olhar, contorno
definido, rasgado de azul, a acotovelar-se na existência. Viver era morrer um pouco todos os dias em paz com o mundo e a paisagem. O destino tornou-se, assim, uma espécie de folha
rasurada, várias vezes, onde perdia o
teu corpo, fragmentado em memórias, e o achava inteiro, suspenso na métrica e no perfume das palavras
a dar voz à beleza em redondilha
maior, cliché mais-que-perfeito estafado de realidade. Sem lirismos para
reconhecer os teus sentidos, neles, sou marinheiro decidido no mar, que entre
nós, não deixa minguar a vontade de sorrir contigo...
7PECADOS
7 Pecados... Uma colectânea de gente interessante que semeia palavras por aí... Uma excelente organização da Pastelaria Studios com o empenho e profissionalismo da Maria Teresa Queiroz. Foi a oportunidade de divulgar mais umas palavras participando com um pequeno conto e de conhecer autores com quem apenas dialogava no mundo virtual, numa noite fantástica. O livro já se encontra na plataforma Goodreads para o respectivo rating...
terça-feira, 3 de setembro de 2013
ENTREVISTA COM TEOLINDA GERSÃO
Um privilégio imenso publicar a entrevista que Teolinda Gersão teve a amabilidade e disponibilidade de conceder ao nosso blog poupando, ainda o anfitrião, à dificuldade em sintetizar a sua nota biográfica... Um grande momento de uma grande senhora das letras.
NOTA BIOGRÁFICA:
Teolinda Gersão estudou
nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi leitora de Português na
Universidade Técnica de Berlim e Professora catedrática na Universidade Nova de
Lisboa. É autora de doze livros (romances e contos), traduzidos em onze
línguas. Foram-lhe atribuídos por duas vezes o Prémio de Ficção do Pen Club (O
Silêncio 1981, O Cavalo de Sol,1989)o Grande Prémio
de Romance e Novela da APE (A Casa da Cabeça de Cavalo,1997),
o Prémio da Associação Internacional dos
Críticos Literários (Os Teclados 1999), o Grande Prémio
do Conto Camilo Castelo Branco (Histórias de Ver e Andar,2002), o
Prémio Máxima de Literatura, o Prémio da Fundação Inês de Castro (A
Mulher que Prendeu a Chuva), e foi shortlisted para o Prémio Europeu de
Romance Aristeion.
Foi escritora-residente
na Universidade de Berkeley em 2004.
Alguns dos seus livros
foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia.
Os seus livros mais
recentes são A Cidade de Ulisses,romance, 2011,e As Águas Livres,Cadernos
II,2013.
Mais informação em
www.teolindagersão.wordpress.com
ENTREVISTA:
1- Fez
uma declaração de amor à língua portuguesa em Junho de 2012 onde, num texto
primoroso, aliou mordacidade, humor
e reflexão.
“Vou
chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está
tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A
professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se
aguenta.”
A esta
distância acha que há,
agora, mais amor à língua portuguesa, ou que, pelo contrário, com a polémica do acordo
ortográfico à ilharga ,“ a turma vai acabar por chumbar”?...
A
“redacção” que escrevi em 2012, ”Declaração de amor à língua portuguesa,” era
um texto muito irónico, mas realista. O
ensino que se faz da língua consiste basicamente na aprendizagem de uma
terminologia e, por muito bons que sejam os professores, os alunos resistem a
aprender o que acham tão absurdo como inútil. O que só prova que são
inteligentes. O MEC tem os chumbos e as péssimas notas que merece.
Quanto
ao desastrado “Acordo” Ortográfico, há um número crescente de vozes de protesto
que o recusam liminarmente, em Portugal e fora dele. O que é um bom sinal de
que estamos vivos.”Estou vivo e escrevo sol”, escreveu António Ramos Rosa. Nós
estamos vivos e escrevemos/dizemos: Não.
2 - Em, A casa da cabeça de cavalo, o personagem Januário interroga-se
sobre se primeiro se deveria ter um estilo e só então escolher as
palavras...Estas são também interrogações suas? Construir uma história, um
texto em que se consiga atingir o equilíbrio entre a beleza da palavra, o estilo e
a necessidade de reflexão? E esse equilíbrio surge-lhe de forma natural ou tem,
por trás, um aturado trabalho?
Esse
passo (como aliás todo o romance) é também muito irónico. Ninguém é escritor
porque construiu a priori um estilo, só quem nada percebe de literatura pode
julgar que se aprende a escrever através da teoria da literatura,da retórica
literária,da linguística ou de qualquer outra disciplina.
3 – Em A cidade de Ulisses a relação amorosa de um casal é
o pretexto para abordar o amor, a liberdade, a identidade, a opressão e
revisitar Lisboa, a antiga e a moderna, traçando paralelismos entre episódios
de ruptura no passado e a situação actual. Acredita que é na criatividade, na arte e na cultura que
reside a chave para vencer
este fado de crise que ciclicamente atravessa a nossa sociedade?
Nada
nas nossas crises é “fado”, mas sim corrupção e incompetência – por vezes
incompetência voluntária, recusa de mudar o status quo por conveniência, o que
é também uma forma de corrupção. Escrevi um romance sobre Lisboa, mas vejo-a da
perspectiva de personagens que estudaram e viveram anos fora dela, e têm por isso um olhar diferente. O fado não é uma
canção melancólica, digo por exemplo no livro: é uma canção altiva. Porque é
assim que penso, somos um povo corajoso e altivo, e não brando e resignado. E
somos imensamente criativos, o que é uma enorme mais valia, não tenho a menor
dúvida sobre isso.
Amo muito Lisboa, sim. Estou satisfeita com o
que, década após década, antes e depois de 74, o poder autárquico e político
têm feito dela? A resposta é não. E em relação ao país, à mesma pergunta daria
a mesma resposta: Não.
4 - No
livro A mulher que prendeu a
chuva assistimos a um
quotidiano onírico, fantástico, reflexivo. Num dos contos, As tardes de um viúvo aposentado, assistimos ao
personagem a tentar preencher o seu dia, a inventar situações e saídas para
poder ocupar o seu tempo. Acha que esse é o tormento do homem moderno? Num
mundo evoluído tecnologicamente o homem acabar por ficar só num mar de
gente...?
É
verdade que a solidão é um problema actual. Existiu sempre, mas a modernidade
agravou-o. No entanto isso não é uma fatalidade, e é possível encontrar
saídas.O problema não está nas coisas a que acedemos, que, em si próprias, são
neutras, está no bom ou mau uso que fazemos delas. A tecnologia por
exemplo pode afastar ou aproximar as pessoas. No fundo, tudo depende
sempre de nós. Escolher é possível.
5 - Nos
seus livros sentimos que a vida
pode ser experimentada a cada linha que se lê... É esse o papel da literatura?
Experimentar o mundo? Deixar pistas para aquilo que não vemos no dia-a-dia?
Acredito
que a literatura alarga o horizonte e a experiência do mundo. Os analfabetos
(em sentido real e em sentido lato, de analfabetismo cultural) são
incomparavelmente mais limitados e mais intolerantes do que aqueles que lêem
(que sabem ler, também no sentido mais vasto do termo). O próprio gesto de
abrir um livro (sem o qual na minha perspectiva a vida não seria vida) é um
gesto de liberdade: um novo espaço se abre, e nos convida a percorrê-lo.E é, ao
mesmo tempo, um gesto de humildade: algo que ainda não sabemos, não conhecemos,
não temos, vai ser-nos oferecido e acrescentado, porque estamos sempre num processo
de crescimento e de aprendizagem,que só chega ao fim quando morremos.
6
- A última questão, normalmente, mais “leve”... A Teolinda Gersão já... prendeu
a chuva?...
(Risos)
Oh,não, eu amo a liberdade e o espaço, e, mesmo que pudesse, nunca prenderia
nada! Nem o sol nem a chuva!
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