Egon Schiele |
Procuro seguir a vida pelo lado de dentro fazendo as
curvas com cuidado. O desejo tem sempre muita pressa e eu gosto de abrandar, de
ver pelo avesso, de contar pelos dedos as vezes que o passado nos marcou a
vontade ou a falta dela, a perda, o desleixo. Fui-te remendo, pedaço, cola,
nota de rodapé, derivação regressiva do verbo amar... E isso já não me basta.
Incomoda-me não ser eterno, não ter certezas, não conhecer Marte, não acabar a
nossa história com um substantivo concreto. No movimento entre o barco e o
cais, não somos nós que partimos, é o mar que chega. Dispo, então, o meu melhor
poema que foste tu a sorrir a meu lado com cheiro de manhã. O silêncio é a
nossa deixa para seguir viagem. Do corpo não se guarda nada, apenas a memória
que sobra do momento em que o suor foi magia.
É na memória do corpo que reside, também, a dos afectos.
ResponderEliminarLindo, Luís!
Valeu a pena o tempo para publicação deste texto.
ResponderEliminarÉ precioso.
Parabéns, nobre Escritor.