Tarde de quinta-feira, sensivelmente pela hora do lanche. Mãe e filha sentadas dentro do café. A filha anda pela metade da idade da mãe, mas ambas vestem da mesma forma antiquada, muito direitas e magrinhas, a pele muito branca por falta de praia, mastigam em silêncio e sorvem o chá, levantando as chávenas ao mesmo tempo. A filha vai esboroando um queque para comer pequenos pedacinhos, enquanto olha para todos os indivíduos do sexo masculino presentes no espaço, cortando o silêncio para se queixar da vizinha do quinto andar, que aparece sempre a horas impróprias, lá em casa, para tratar da administração do condomínio, interrompendo o jantar ou algo que estivessem a fazer e trazia, agendadas, uma série de matérias que levavam muito tempo a resolver. Não tinha marido, estava desempregada, tinha dois filhos, um casal, ela emigrara para Inglaterra e ele engravidara uma psicóloga e interrompera o mestrado em económicas para se casar.
A mãe disse-lhe para ter paciência, havia coisas piores e, ao que sabia, ela era boa pessoa. Chata, mas boa pessoa e as boas pessoas não se podiam tratar mal, havia que dar graças a Deus por existirem.
- Tanta gente no café a esta hora! Não devem ter nada que fazer! - Disse a filha.
- Ou estão desempregados - Respondeu a mãe - É o que mais para aí há… Desempregados!
Voltaram a ficar em silêncio só interrompido por novo gole de chá.