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segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS






A edição do mês de Dezembro do jornal As Artes entre as Letras, com uma pequena colaboração minha em forma de crónica. 

“As Artes entre As Letras” é um jornal quinzenal que nasce em Maio de 2009 para florir entre debates de ideias, da História e do Património, das Artes Plásticas e da Arquitectura, da Música e da Ciência, da Filosofia e da Literatura, do Teatro e do Cinema, da Dança e da Fotografia, mas também da Lusofonia e do Ensino e Educação


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

ENTREVISTA NOVOS LIVROS




Respondendo ao amável convite de José Nunes Carneiro uma pequena entrevista sobre… livros, ao Novos Livros - Revista de leitores para leitores

http://www.novoslivros.pt/2018/11/luis-bento-des-existir-do-improviso.html


1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Des Existir do Improviso»?
R- É uma excelente questão que me faz repensar o significado de obra, obra como objecto em construção, obra como objecto inacabado. Nesse sentido, «Des existir do Improviso» é mais uma ferramenta, ou antes, mais um pouco de argamassa num trabalho que venho a desenvolver há algum tempo e que materializa um percurso conscientemente inclusivo e aberto, ostensivamente ramificado. Este livro representa uma evolução no que escrevo, nos valores e princípios que pretendo discutir. O humor amargo, o sarcasmo, os murros no estômago, a estilística e as ideias estão lá, à semelhança de outros textos e livros do passado, mas aparecem agora (creio) de forma mais madura.

2-Esta é a segunda vez que recebe o Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres: que significado tem para si?
R- Quem escreve, pretende fazer chegar a sua voz ao outro, contribuir com ideias para um debate, para uma leitura, acima de tudo para ajudar a mudar um pouco o panorama literário. Ser distinguido com um prémio literário de grande qualidade e prestígio, como é o Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, ainda por cima pela segunda vez, é uma excelente motivação para ganhar experiência, curriculum e continuar a acreditar na consolidação de um projecto pessoal de escrita.  Tive oportunidade de referir no passado que, mais que o valor monetário do prémio, o importante é o patrocínio para a edição do livro, o lançamento e todo o trabalho de divulgação da obra, incentivo de peso para ajudar a descobrir novos valores na poesia e na cultura conforme outras iniciativas do género da União de Freguesias Fânzeres/S. Pedro da Cova.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever ou a preparar para editar?
R- No momento, enquanto aguardo resposta para publicação de um romance de 2017 que também foi distinguido com um prémio literário, estou a ultimar a continuação dessa história que muito gostaria de ver publicada. No primeiro romance um escritor acorda em sobressalto durante a noite quando um homem de negro lhe bate à porta trazendo um jogo de xadrez debaixo do braço. Cansado das suas queixas e reclamações, o homem de negro propõe-lhe disputar uma partida, se o escritor perder, dar-lhe-á nova oportunidade de vida, apagando a sua memória sem termo de comparação com a existência anterior, não sabendo sequer, que algum dia teve uma existência anterior, se ganhar tem a liberdade de recusar a proposta... E a vertigem desenrola-se em forma de roteiro cinematográfico, entre episódios e considerações sobre a revolução, a inércia, a felicidade, a memória, a falta de vontade, uma crítica revisionista ao sebastianismo, ao pós-revolução, ao desencanto, à sociedade que leva um idoso a urinar-se, perna abaixo, numa patética tentativa de assalto a um banco, com meia dúzia de personagens sui generis convocadas com humor amargo, quase ao cair do pano, para um final inesperado… No segundo romance, para além da evolução das personagens da história anterior, surge um apresentador de televisão em cujo programa, um dos convidados morre em directo. O programa continua enquanto os outros convidados vão sustendo o corpo do morto e respondendo por ele. Quando o público se apercebe do sucedido, começa a exigir mortos em palco e então os espectadores fazem filas à porta do estúdio, a levar acamados e moribundos para ver se morrem em directo. Gera-se um debate sobre a morbidez da ideia, o desmoronamento da sociedade e, no auge das audiências, do conflito e do debate, depois de uma cena em que um filho entra em estúdio para se suicidar, também em directo, o apresentador morre subitamente…e depois… bom, e depois o melhor é esperarmos para ver quando sai o romance…
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Luís Bento
Des Existir do Improviso
Chiado Editora  10€

Luís Bento na Novos Livros | ENTREVISTAS

sábado, 20 de janeiro de 2018

UNDER THE COVER





Recentemente, numa visita à Gulbenkian, descobrimos a UNDER THE COVER, uma loja de publicações independentes, de grande qualidade,  num espaço muito agradável que convida a explorar as novas vanguardas e onde a dificuldade reside na escolha do número de exemplares a adquirir. Da experiência, fica aqui a entrevista que a UNDER THE CONVER concedeu ao nosso blog.


1 – Como surgiu o projeto Under The Cover?

A loja under the cover abriu portas em Dezembro de 2015 por iniciativa de Luís Cunha e Arturas Slidziauskas, mas o projeto começou a ser delineado quase um ano antes. Algo que tínhamos como certo desde o início era fazer algo que gostássemos na nossa vida pessoal. Sempre tivémos uma paixão por revistas e publicações independentes, e sentimos que havia um espaço por preencher na cidade. Viajámos e procurámos inspiração noutras lojas do género espalhadas pela Europa, e assim nasceu a under the cover: uma loja especializada em publicações criadas para inspirar o leitor.

2 – Na sociedade atual em que, apesar de haver maior quantidade de meios de comunicação, a vertigem do tempo impede as pessoas de ter um maior contato direto, o tipo de revista como a que encontramos na Under The Cover poderá ser uma forma de resistência?

Acreditamos que numa sociedade pautada pela rapidez dos  acontecimentos e em que os objetos perdem a palpabilidade, momentos em que desconectamos e folheamos pausadamente uma revista, são um privilégio que não deve ser negado e uma necessidade para o bem-estar. É um hábito simples que tem um incrível potencial de melhorar o nosso dia.

3 - Que pensa do livro e da revista digital? Teme-os ou, pelo contrário, acha que poderá ser um complemento?

Ao contrário do que se poderia pensar, as plataformas digitais têm sido as melhores aliadas das publicações independentes. Prova disso são os inúmeros exemplos de revistas que nascem secundariamente a plataformas digitais: Hypebeast, The Rolling Home, A City Made By People, Printed Pages... O meio digital é excelente para testar modelos a custos reduzidos. Se o formato digital reúne popularidade e tem os seus fãs, transitar para o papel é um passo menos arriscado. Estas plataformas têm sabido aproveitar o formato físico enriquecendo a experiência de leitura e oferecendo conteúdos que não são possíveis obter através da internet.

4 - Como se gere um negócio livreiro deste tipo?

É com muito prazer que fazemos o que fazemos, temos por isso dificuldade em vê-lo como um negócio. Grande parte do nosso tempo é passado na pesquisa de novas publicações e na curadoria dos produtos. Estamos especialmente atentos ao que se está a fazer de mais vanguardista na cena editorial internacional. Este é um mundo novo para nós, e ainda estamos a apender com os nossos erros e sucessos. Em última instância, são os nossos leitores que ditam se estamos a fazer bem o nosso trabalho. Eles estão na nossa mente na tomada de qualquer decisão e é a eles que temos que a agradecer tudo o que construímos.

5 - Que livros e outros materiais podemos encontrar na sua livraria?

A under the cover é uma livraria contemporânea. Disponibilizamos livros, e principalmente revistas internacionais, que fazem uma abordagem fresca e irreverente de temas como a arte, moda, design, fotografia, gastronomia, viagem, música, sociedade, estilo de vida, etc.

6 - Para terminar, fale-nos um pouco sobre algum episódio especial ou fora do comum que tenha sucedido na sua atividade, do espaço e onde se situa, para que os nossos leitores a possam visitar.

A melhor recompensa que podemos ter é  o reconhecimento de quem nos visita. Ver alguém tão entusiasmado com as publicações como nós próprios, e que encontra nelas motivo de inspiração. E depois há aquele momento, que fecha um círculo, em que alguém que descobriu uma revista no nosso espaço, acaba por escrever para ela. Isto já aconteceu antes e nós esperamos que aconteça muito mais vezes. É desta relação próxima entre editores, contribuidores e lojistas que o mundo das publicações independentes é feito.

Convidamos todos a visitarem-nos e encontrar inspiração nas páginas de uma revista. A loja está localizada em frente a uma das saídas do Jardim da Fundação Gulbenkian, na Rua Marquês Sá da Bandeira 88b. Os nossos produtos também podem ser adquiridos na nossa loja online em www.underthecover.pt

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

NERVO





NERVO* (do latim nervus; substantivo masculino)
Cada um dos órgãso em forma de filamento, que ligam o sistema nervoso às outras partes do corpo e servem de condutores da sensibilidade e do movimento.

Chegou-me hoje, pelo correio, a revista Nervo, um colectivo de poesia organizado e editado por Maria F. Roldão. Uma irrepreensível composição conceptual e gráfica onde se reúnem quinze poetas e dois artistas plásticos de seis nacionalidades. Numa era em que cada vez se lê menos literatura "séria" como recentemente me confidenciaram, é de louvar este novo espaço de divulgação de poesia contemporânea, alcançando "o que de mais aprazível se escreve e produz no meio literário  actual, nas diferentes gerações de poetas", defendendo os valores da liberdade, pluralidade estética e hedonismo criativo. Como...

"Água-de-poema
a cair sobre as páginas
Seixos
de sede
saciada."
Maria F.Roldão



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

DESENHO



A minha crónica na revista CALIBAN 

https://caliban.pt/

Quadro de Gilberto Gueereiro - pintor artístico catch@live.com.pt

Ainda não aprendi a acreditar em Deus. Vou do céu ao inferno num fósforo, mas penso pela minha cabeça sem cair nessas tretas da Virgem, bonita, de vestes brancas, de coração aberto para nos salvar das chamas, das profundezas do mal e de muitos outros suplícios por via das orações diárias com silícios e urtigas esmagadas nas mãos em concha. Quanto muito, poderia andar à boleia do catecismo soft a imaginar, sem grande dificuldade, feiras de santinhos, relíquias, amuletos, crucifixos, velas de cor e pagelas com hóstias coladas a fazer publicidade à padaria portuguesa. Sou um cínico, apesar disso consigo andar em paz, algumas vezes, sossegado, enquanto a chuva desaba nos plátanos e nos aciprestes da mata que vejo das traseiras da minha casa de fim de semana. Às vezes gostava de me encontrar com o passado, mais ou menos no momento em que, naquela infância despreocupada e crente, as minhas dúvidas deixaram de ser brincadeira e se tornaram coisa muito séria. Normalmente é assim, temo-nos em conta de boas pessoas apesar do azedume, do rancor e da inveja. Sem darmos por isso, acabamos numa angústia, a circular em torno do enfado com que contamos as mesmas histórias, pesadelos e mazelas. Gosto de olhar pela janela e adivinhar as horas. Devem ser quase umas seis da manhã, o rio ainda não perdeu o tom escuro riscado pelo fio de prata da lua cheia. As pessoas começam a formigar nas ruas para o emprego, os telhados a abrigar murmúrios e restos de sono de gerações, a igreja com a sua torre lá no alto, a acumular séculos de fé e pedras e tudo continua sereno e inalterável, como se a vida fosse um percurso linear, um equilíbrio de mudas cumplicidades, a que assistimos, impotentes, antecipando acontecimentos. Era isso o destino, talvez. Lembro-me de pedalar num triciclo azul, ferrugento, com assento de madeira áspero e cheio de falhas e gretas. A vizinha deixava-me ir brincar para o quintal e eu ficava ali ás voltas, às voltas, acreditava que se conseguisse fazer umas mil voltas ia ter ao centro da terra, depois ficava tonto e cansava-me e dizia para mim próprio que amanhã ia conseguir ou continuar, uma vez que as mil voltas não precisavam de ser todas no mesmo dia… E sempre que volto à pureza destas memórias esqueço-me de que a morte existe… A maior parte das vezes faço-me de estúpido e percebo que pode ser muito divertido. É um refúgio como outro qualquer. Toda a gente deveria ter uma oportunidade para ser feliz e, acredito, que a minha ainda esteja para vir, apesar de me distrair com o supérfluo e ficar sem vontade para o que realmente me poderia realizar. Tarde ou cedo, a saudade vem sempre para conversar comigo, tudo o mais é ruído num passado que nunca deixou de ser real e num presente que ainda não percebi bem se é desenho ou ficção.