“O votante, enquanto consumidor, não tem um interesse real pela política, pela configuração ativa da comunidade. Não está disposto nem capacitado para a ação política comum. Limita-se a reagir de forma passiva à política, protestando e queixando-se, do mesmo modo que o consumidor perante as mercadorias e os serviços que lhe desagradam. Os políticos e os partidos também seguem esta lógica do consumo. Têm de fornecer.
É assim que se degradam em fornecedores que têm de satisfazer os votantes enquanto consumidores ou clientes.
A transparência que se exige hoje dos políticos é tudo menos uma reivindicação política. Não se exige transparência perante os processos políticos de decisão, pelos quais nenhum consumidor se interessa. O imperativo da transparência serve sobretudo para expor os políticos, para os desmascarar, para os transformar em objeto de escândalo. A reivindicação da transparência pressupõe a posição de um espectador que se escandaliza. Não é a reivindicação de um cidadão com iniciativa, mas a de um espectador passivo. A participação tem lugar sob a forma de reclamação e de queixa. A sociedade da transparência, habitada por espectadores e consumidores, funda uma democracia de espectadores.”
Byung-Chul Han, Psicopolítica, Relógio D’Água, Lisboa 2015