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quarta-feira, 4 de julho de 2012

EPÍSTOLAS

William Whitaker
Longo, o pedaço em que concedi licença sem vencimento à consciência e à vontade. Num “ (…)país de marinheiros a navegar nas águas insonsas da subserviência” nem a má companhia do Lobo Antunes me diluiu a inércia e a omissão. Só as  palavras nos salvaram, laboriosamente esculpidas ou, simplesmente, acocoradas, à laia de pedreiro, a partir pedra , num futuro enviesado e matreiro, abrindo caminho à poética do sobressalto.
 “Animula Vagula Blandula”…  Esta sim, a par com a tua, uma excelente companhia pela memória, pela delicadeza, pela “tendresse jolie et doux” com que a tua existência me premeia. Não nos vemos e sinto-te por perto, não falamos e oiço-te em silêncio.
Porventura, não vão as nossas cartas beijar a luz do dia com a têmpera das incetetezas de Adriano nem passear-se nos corredores vetustos de L’Academie, acima de tudo é pelo desejo e pela necessidade , mais pelo desejo da necessidade de  moldar, na plasticidade da palavra, o teu sorriso terno e franco , a firmeza com que escondes as fragilidades, o coração, ainda e sempre, adolesecente, a escorrer da boca e guardar tudo num ponto parágrafo docemente infinito, que te escrevo.
- Impossível! – Disse o orgulho.
- É arriscado! – Disse a experiência.
- Não faz sentido! – Disse a razão.
- Tenta-o! – Sussurrou o coração…

E assim, necessariamente, sussurro-te…