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Antony Gomley | | |
A cada passo irrito-me com o
absurdo do fascínio que sinto por tudo o que não entendo e que me magoa. O
mundo só é grande porque o céu fica acima das estrelas e pergunto-me: o que
preciso fazer para me sentir seguro ou livre. Desce o silêncio. Desce
sempre, E fico assim hirto, como o filho do meu vizinho de infância que ficava horas a mandar pedrinhas à janela da nossa casa por inveja, porque lhe dava gozo, porque devia andar cansado do seu corpo e com vontade de lhe
ordenar que o largasse, se pudesse
pendurava-o num cabide e procurava noutro corpo a novidade e então podia gozar
a luz do outono, tranquila, a passar num murmúrio e a segredar-lhe que a vida
era uma ponte entre duas mortes.