De meu mesmo tenho muito pouco… Um relógio a encher-se de horas,duas pilhas de livros para ler, quatro folhas de papel para imprimir, selos, clips, lápis e borracha, conchas, peixes e um aquário de plástico, rifas de quermesse, versos do Pessoa em desalinho, os calções de bombazine da primeira comunhão, a caneta de tinta permanente da quarta classe, o cheiro do arroz doce com canela da minha mãe, uma caixa de memórias para arrumar e o brilho de três estrelas a reluzir confidências num canto do céu, azul escuro e espesso, infinito, do tamanho da saudade de chumbo dos soldadinhos da infância…