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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A HISTÓRIA DA BRUXA MÁ

Renato Guttuso


À noite, para além dos gatos pardos, voava em páginas, a domesticar a torrente de palavras nas margens do silêncio, ocupado a pontuar, de mansinho, frases de figurino e histórias de encantar.
Era uma vez… (assim começavam todas as histórias), um par de estrelas a cintilar, um poema à deriva sem métrica definida, uma mão cheia de gestos, um sorriso e um pintor. Com o brilho das  estrelas deu luz à esperança, com o ritmo do poema deu corda à paixão, com o preciosismo dos gestos construiu um palácio e abriu o sorriso e assim pintava os dias na quadrícula das calendas. Até ao momento em que apareceu a bruxa má. Enquanto Deus andava distraído, o inferno cheio e o mundo ocupado, com um sopro, roubou-lhe a esperança, fechou-lhe o coração, derrubou o palácio,  apagou o sorriso e secou as cores. E assim, o pintor tornou-se banqueiro, a bruxa má amancebou-se com ele, Deus tornou-se passagem bíblica,e o mundo tingiu-se de cinzento. De todo o lado se levantaram vozes de  escritores, críticos e outros literatos, intifada académica, a moer pelo peso da forma, lançando o vitupério pela falta de domínio narrativo, senso  e moral da história agonizante no triunfo obsceno do mal, não percebendo eles que, entre o encanto e a realidade sem anestesias, o mundo era hoje, também ele, uma história mal contada…