Quadro de Helena Abreu |
Às vezes escrevo para fazer jeito ao dedo, até chegar aquele texto. Outras para me tornar melhor. Não é que a salvação
esteja na escrita, mas um dia a vida vai acabar de qualquer maneira e a noite é
demasiado longa para histórias curtas...
O verão começara
com o teu sorriso e prolongara-se noite dentro. Escura, amena. Os lábios,
macios, escondidos num beijo de olhos fechados. De olhos fechados o
universo perde importância e os nossos corpos, juntos, tornam-se infinitos, sem
pressas, apesar de saber que não tenho noites suficientes para envelhecer nos teus braços. O
tempo é um detalhe que vai e vem, sem palavras, dentro da memória, no momento
em que me esqueço dos nomes das
coisas e sinto a intermitente presença da tua falta. Perco-me às metades no teu corpo e tu a
tornares-te inteira numa lógica de que só a minha pele conhece a fórmula, sem
raciocínio, vontade ou semântica. E imploro-te que não acendas a luz
para poder ver a madrugada a partir.
E, lentamente, adormecemos.