terça-feira, 19 de dezembro de 2023

VIDÓNOVELA

 


CAOS

Imagem: Pinterest 


Nos tempos modernos parece existir um prazo de validade social para o luto e o conforto, ninguém quer lembrar coisas más, com medo que se repitam ou se peguem ou venham a agitar o equilíbrio, já de si precário, das suas vidas, mas por vezes o passado trás um futuro com o qual não se contava e que pode vir a submeter o caos ao tempo ou vice-versa



domingo, 3 de dezembro de 2023

O QUE É NACIONAL É BOM?

 


Então, basicamente é isto não é?

Um esfregão Scotch-Brite para incluir as lides domésticas, uma maçã amarela para incluir a pujança da agricultura nacional e um cartão vermelho para incluir o futebol, religião comummente aceite por todos os estratos sociais.

P.S. Aceitam-se encomendas, base de licitação: 74.000,00 EUR

sábado, 25 de novembro de 2023

AS PEQUENAS COISAS

 


Desde que inventaram a roda, o mundo não parou mais, a nós cabe usar o travão ou, pelo menos, tirar o pé do acelerador.

Olhando para as pequenas coisas, o mundo anda mesmo mais devagar...

domingo, 19 de novembro de 2023

PSICOPOLÍTICA

 



“O votante, enquanto consumidor, não tem um interesse real pela política, pela configuração ativa da comunidade. Não está disposto nem capacitado para a ação política comum. Limita-se a reagir de forma passiva à política, protestando e queixando-se, do mesmo modo que o consumidor perante as mercadorias e os serviços que lhe desagradam. Os políticos e os partidos também seguem esta lógica do consumo. Têm de fornecer
É assim que se degradam em fornecedores que têm de satisfazer os votantes enquanto consumidores ou clientes.
A transparência que se exige hoje dos políticos é tudo menos uma reivindicação política. Não se exige transparência perante os processos políticos de decisão, pelos quais nenhum consumidor se interessa. O imperativo da transparência serve sobretudo para expor os políticos, para os desmascarar, para os transformar em objeto de escândalo. A reivindicação da transparência pressupõe a posição de um espectador que se escandaliza. Não é a reivindicação de um cidadão com iniciativa, mas a de um espectador passivo. A participação tem lugar sob a forma de reclamação e de queixa. A sociedade da transparência, habitada por espectadores e consumidores, funda uma democracia de espectadores.”

Byung-Chul Han, Psicopolítica, Relógio D’Água, Lisboa 2015

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

ENQUANTO VAMOS SOBREVIVENDO A ESTA DOENÇA FATAL

 


Tive a oportunidade de conhecer o Nelson Nunes num dos muitos cursos de escrita criativa da EC.ON, daí para cá tenho acompanhado o seu percurso literário com muito interesse, o seu  último livro Enquanto vamos sobrevivendo a esta doença fatal, da editora Zigurate, a que  tive o prazer de assistir ao lançamento é um ensaio bem  estruturado, de leitura acessível, com suporte bibliográfico abrangente e que aborda as várias manifestações da morte, testemunhos na primeira pessoa sobre reação à morte dos que nos são próximos, a eutanásia, com algum humor, por vezes, de forma a aliviar a carga. Poder-se-ia dizer, com toda a propriedade, fazendo uma apropriação do título de um dos capítulos: um Manual de instruções para viver com prazo de validade.

263 páginas que se devoram num ápice.

A ler.


domingo, 29 de outubro de 2023

DIALÉCTICAS



Brooke Didonato


Quando ela se apercebeu dos primeiros sinais de demência do pai mudou-se para uma casa de pedra antiga, com três quartos em soalho, a última em condições, numa fiada de ruínas numa vila no interior, mais calma, solarenga, uma paisagem de artista, onde  ele repetia sem cessar a história da bicicleta, prenda de passagem da quarta classe a que ela respondia de forma mecânica: “já me disseste isso três vezes! Hoje!” Antes tivesse um cancro, que fluía rápido, ao invés do esvaziamento progressivo da consciência e do carácter, de que ela já guardava poucos traços. 

Ela achava que por já estar nos cinquenta só poderia ter papel de cônjuge se fosse personagem de romance, mas muito má era a sua história, sendo filha única, solteira por acidente e sem contacto com primos afastados por opção, sem lugar para protagonismo, só o sentido de humor lhe mantinha a estabilidade e as raízes de uma macieira viçosa. 

A verdade é que nunca fora talhada para compartilhar uma vida sentimental, achava que o outro iria ocupar muito espaço na cama e na cabeça, mais o barulho e a confusão, as explicações, as arrelias, os odores na casa de banho e depois de toda a tolerância e cedência com o gosto e o interesse particular do outro, uma dia cansavam-se e vinha o eclipse. Não obrigado! Estou bem assim, o espírito enganado numa frase, anátema profundo da dor clandestina, mansamente aceite, enquanto sonhava com orgasmos em ditirambos como nas Dialécticas do Jorge de Sena, até ao dia em que, numa ida a Lisboa se cruzou com um antigo colega de Liceu à saída do metro, atrapalharam-se nas cortesias de educação sobre quem saía primeiro e ela perguntou-lhe para onde ia o túnel da saída norte, e ele, serenamente, respondeu-lhe que ia para onde pudessem construir um futuro juntos.

Ela achou piada e deu-lhe o braço…


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

OS FRESCOS DE POMPEIA, QU'HORROR!




Como diria o Camões: 

"Cancelando removerei por toda a parte, 
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte"

E agora? Só falta remover os frescos de Pompeia. Qu'Horror!...

sábado, 19 de agosto de 2023

IRANIANS WANT REGIME CHANGE

 




Grupo de manifestantes iranianos em Viena a lembrar que o povo não pode estar ao serviço do regime, mas sim o seu contrário: o Estado existir para servir o povo. A luta e o protesto não vão de férias, para que não sejam esquecidos os mortos durante os últimos protestos em Teerão, na sua maioria, jovens.

terça-feira, 20 de junho de 2023

MAPAS DO CONFINAMENTO

 




Após prolongada ausência, é com satisfação que volto às letras, com uns textos na revista Mapas do Confinamento, com um agradecimento especial à Gabriela Ruivo Trindade.


ESTUÁRIO


O estuário está seco e eu estou ansioso em velocímetros de extermínio, prazer no intervalo entre estações, de comboio, claro está.


Um abajur de lua envelhecida e um amante volúvel em urgência inquieta, na alvorada de falsos poemas, trabalha em metalurgia pesada com palavras moldadas no ferro. Para trás a doce apatia.


Perecível marinheiro na soleira da raiva, mexe-se em instante pecado.


A véspera do Natal é sagrada, lembro-me disso em 1961, o amor de mãe não cumprimenta a arritmia da Guiné e o Spínola bebeu champanhe do monóculo, refugiado no seu casulo a finalizar um discurso na derradeira demora.


Numa falência de gestos, enquanto o porteiro comia nêsperas com sofreguidão, deu-lhe uma dentada na pele postiça, no tempo do café ao postigo, pós traumático e pós moderno. No deserto não chove.


A noite caiu súbita, metade de mim adormeceu, guardando-nos na algibeira de quem mais amo, sei lá eu quem mais amo. Talvez num poema de insónia ou na companhia do Dostoyevsky.


No porto de abrigo os sôfregos redimem os excluídos em moldes de gesso.