Mostrar mensagens com a etiqueta confinamento. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta confinamento. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 20 de junho de 2023

MAPAS DO CONFINAMENTO

 




Após prolongada ausência, é com satisfação que volto às letras, com uns textos na revista Mapas do Confinamento, com um agradecimento especial à Gabriela Ruivo Trindade.


ESTUÁRIO


O estuário está seco e eu estou ansioso em velocímetros de extermínio, prazer no intervalo entre estações, de comboio, claro está.


Um abajur de lua envelhecida e um amante volúvel em urgência inquieta, na alvorada de falsos poemas, trabalha em metalurgia pesada com palavras moldadas no ferro. Para trás a doce apatia.


Perecível marinheiro na soleira da raiva, mexe-se em instante pecado.


A véspera do Natal é sagrada, lembro-me disso em 1961, o amor de mãe não cumprimenta a arritmia da Guiné e o Spínola bebeu champanhe do monóculo, refugiado no seu casulo a finalizar um discurso na derradeira demora.


Numa falência de gestos, enquanto o porteiro comia nêsperas com sofreguidão, deu-lhe uma dentada na pele postiça, no tempo do café ao postigo, pós traumático e pós moderno. No deserto não chove.


A noite caiu súbita, metade de mim adormeceu, guardando-nos na algibeira de quem mais amo, sei lá eu quem mais amo. Talvez num poema de insónia ou na companhia do Dostoyevsky.


No porto de abrigo os sôfregos redimem os excluídos em moldes de gesso.

terça-feira, 14 de abril de 2020

CONFINAMENTO




Ogri_world

A crueldade manifesta-se nos pequenos pormenores do dia a dia, no momento em que nos apercebermos que a vida já não leva rumo, nem vontade para se endireitar, fruto da passividade caucionada pela ignorância e pelos média, em décadas de perda de contacto com a realidade crua por via semântica e pelo mero encolher de ombros.
Vivemos sempre em relação ao outro, em função da imagem que temos do mundo pelo lugar que ocupamos no espaço geográfico. Fazemos as pequenas coisas que podemos e outras que não podemos, muitas vezes, as que não devemos, à espera das boas graças e da benevolência de um destino que, à luz da história, nos tornou donos de algo que nunca foi nosso.