A imagem é de Jean Paul Bourdier |
Quando
deu por si era o último vestígio de uma noite longa…
Não
sabia o que seria o seu futuro, talvez cicatrizes do acidente de ontem, resto
zero de uma equação indefinida, ele que nunca tinha tido jeito para as
matemáticas. Não sabia como curar a ausência agora que o endereço da voz dela mudara
de corpo. Desde aí adormecera por fora, o calendário passara a ter só noites e
o seu espírito fechara-se, permanecendo incógnito, impermeável, livre de
devassas. Só o amor podia subverter o desequilíbrio do seu quotidiano quando
todos se tinham esquecido de resistir. Ele tinha muitos sonhos, estudou para
engenheiro, ela para enfermeira e eles acabaram o namoro, ele detestava o cheiro
a éter. Perdeu-a quando foi comprar umas asas.
Só
não tinha medo do precipício quem tinha aprendido a voar.
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