domingo, 11 de novembro de 2012

OLHAR O PASSADO

Desenho de Lou Camille
 Hoje não se trocam cartas, trocam-se mails que é a mesma coisa: Palavras que vão e vêm, mas sem selo. Neste caso, com a Lou Camille do blog Neurologia do Parasita


"E eu  que só hoje li os teus mails, a debitar figuras de estilo e trocadilhos a esmo na escrita. Afinal, basta simplicidade sem acabamentos ou rodapés, assentar as palavras direitinhas como tijolos...
Não te importas se eu publicar o mail pois não? Exemplos de arte escrita não podem ficar escondidos na caixa de correio... "

(Luís Bento)

"Menino, vê lá... eu não quero escrever nem ser escritora. escrevo para mim e para alguns que gostam de me ler através de palavras escritas em português. não faças de mim o que não sou. (eu gosto de bastidores. gosto de maçã reineta e pêra rocha. eu gosto da palavra como gosto de pincéis. gosto da superfície das telas e da trementina. gosto ainda de Beethoven e de Satie mas também de Mozart e de Cosi Fan Tutte. Eu gosto de abrir e ver o que tem dentro e, por vezes, fechar a seguir. Gosto do amargo e do chá sem açúcar. eu gosto do silêncio e não gosto do gosto dos outros.) interessa-me a humanidade e um copo de vinho. porque a humanidade pode estar dentro de um copo de vinho sem ciência nem artifício."


"e eu..........que nem encantadora, que nem menina, falo uma linguagem de lá longe, do outro tempo que não eu a minha avó e o meu pai menino, os tempos da casa na Graça que não eu a minha mãe garota, as hortas de Benfica que não eu o meu avô e a tribo dele…. Histórias que sempre me contaram ao borralho, nos jantares alongados nas mesas fartas do pão de milho e da chouriça…. o cheiro da couve galega na panela de ferro e o crepitar dos sonhos nas brasas de oliveira. Era um tempo diferente mas bom, eternamente bom. A minha irmã menina, o meu irmão não morto, vivo, os três a fazer teatro atrás do reposteiro no vão da porta onde as paredes eram de granito, frias e húmidas. E todos a bater palmas no final!…. serões de província…. serões de conversas, de histórias que eu ouvia….. e ainda hoje se fazem lá por casa, mesmo sem teatro….. e por vezes com gotas de saudade….. ….. é bom saber como isso nos fez o que somos.
Um dos resultados é não ter televisão em casa. "

(Lou Camille)

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