quarta-feira, 25 de julho de 2012

AS PALAVRAS


Sentia falta das palavras, dos gestos, do mimo e do sorriso com que pintava o dobrar dos dias, do olhar terno e profundo, convite explícito e aberto a devassar-lhe a alma, em  final de tarde, remendo de primavera colado à pressa sobre aquele Dezembro irreconhecível e confuso no jardim de relva bem tratada, com um castanheiro secular, um banco pintado de fresco  e uns arcos de pedra do tempo dos romanos obscenamente grafitado sem acento: “Antonio ama Maria Inês” com o peso do apelido a reforçar a sinceridade da declaração.
Doía-lhe a inconstância da presença. O sobressalto, o tempo, os silêncios. Caprichos do destino a brincar sem cerimónia. Doía-lhe a falta dos seus braços envolvendo-a no reflexo do espelho, pela manhã. E de tanto doer achava, por vezes  que o coração era uma dor do tamanho do mundo, percebendo, afinal  de contas,  que o amor, era coisa maior que ele…

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