quarta-feira, 31 de maio de 2017

PEDRA, PAPEL OU TESOURA



wingfield-clements-glass.com _1

Uma visita rápida pelo Google News foi o suficiente para me deixar estarrecido.

Valentim Loureiro é candidato autárquico, falou qualquer coisa sobre boxe, mas esqueceu-se de falar em vergonha. A Maria Vieira apelidou o Salvador de idiota, o Cavaco ( o actor, porque o outro come bolo-rei de boca aberta) apelidou a Vieira de retardada mental, Cristina Ferreira foi considerada a mulher mais influente do país, a Tixa que é Tixa, não se importa de ser Tixa, mas prefere ser Salomé, eu sou Bento, mas posso ser Salomão e lavar daí as minhas mãos, a mãe da Luciana Abreu precisa de companhia na valeta, o Nuno Markl não reconhece a Maria Vieira e ficamos sem perceber se tem Alzheimer, anda meio mundo a tentar saber o significado do "covfefe" do Trump e encontraram três cadáveres na casa do John Lennon. Eu esgotei a dose de Diazepan e fui ouvir José Mário Branco: " O que eu andei para aqui chegar"...

segunda-feira, 1 de maio de 2017

O ESPELHO




Pessoas são pessoas e lugares são lugares e o sítio onde se junta o bom, o justo e o belo é o espelho à nossa frente...

domingo, 30 de abril de 2017

PERFORMANCE



Brennan - Sun on an empty chair 2

Morreu Vito Acconci, o homem que fez da masturbação arte

Vito Acconci foi um pioneiro da performance nos anos 60. Antes de se virar para a arquitectura, construiu uma obra radical à volta do seu corpo e do espaço.



Pais de todo o mundo! Não impeçam os vossos filhos de contar azulejos no WC, estareis, porventura, na sua essência, a cortar as pernas a um artista, a um performer em potência... 

sábado, 29 de abril de 2017

AOS QUE AINDA VÃO CAIR



Pinterest

Fazendo jus a uma velha máxima da filosofia popular dos amantes de duas rodas, de que só há dois tipos de motociclistas: "Os que já caíram e os que ainda vão cair", ao fim de mais de três anos de físico impoluto e condução irrepreensível, acabei por aderir ao clube dos que se estrearam no asfalto, de capacete e joelhos.
A escrita segue dentro de momentos, assim que a pele se regenere, a perna volte ao normal e a mota saia dos cuidados intensivos.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

ESTUDIANTES PORTUGUESES HAN CAUSADO DESTROZOS



Black Magic woman

Unos 800 estudiantes provocan destrozos en un hotel de la Costa del Sol según la policía los desperfectos causados estarían valorados en "miles de euros" http://politica.elpais.com/politica/2017/04/08/actualidad/1491670926_082547.html   

Uma mãe portuguesa, de um dos estudantes da viagem de finalistas, que acha normal ver um sofá ou uma mesa de cabeceira num elevador e que "são jovens e que se é assim mais valia irem para um Hotel em Fátima", quer dizer que a norma é a bandalheira e o vandalismo e o o que está fora disso deverá ir para um retiro espiritual... quem acha normal "apenas uma parede riscada e beatas no chão"... consegue, realmente, atingir o défice mais baixo de sempre... da massa cinzenta de alguns paizinhos... depois vamos, todos, rasgar as vestes por causa das declarações do Dijsselbloem...

 

terça-feira, 28 de março de 2017

sexta-feira, 17 de março de 2017

TEA TIME





Tarde de quinta-feira, sensivelmente pela hora do lanche. Mãe e filha sentadas dentro do café. A filha anda pela metade da idade da mãe, mas ambas vestem da mesma forma antiquada, muito direitas e magrinhas, a pele muito branca por falta de praia, mastigam em silêncio e sorvem o chá, levantando as chávenas ao mesmo tempo. A filha vai esboroando um queque para comer pequenos pedacinhos, enquanto olha para todos os indivíduos do sexo masculino presentes no espaço, cortando o silêncio para se queixar da vizinha do quinto andar, que aparece sempre a horas impróprias, lá em casa, para tratar da administração do condomínio, interrompendo o jantar ou algo que estivessem a fazer e trazia, agendadas, uma série de matérias que levavam muito tempo a resolver. Não tinha marido, estava desempregada, tinha dois filhos, um casal, ela emigrara para Inglaterra e ele engravidara uma psicóloga e interrompera o mestrado em económicas para se casar.
A mãe disse-lhe para ter paciência, havia coisas piores e, ao que sabia, ela era boa pessoa. Chata, mas boa pessoa e as boas pessoas não se podiam tratar mal, havia que dar graças a Deus por existirem.
- Tanta gente no café a esta hora! Não devem ter nada que fazer! - Disse a filha.
- Ou estão desempregados - Respondeu a mãe - É o que mais para aí há… Desempregados!
Voltaram a ficar em silêncio só interrompido por novo gole de chá.

quinta-feira, 16 de março de 2017

NOVOS PENSAMENTOS DO SR. TIMÓTEO



Pinterest


Se a vida lhe corre mal e acha que está "em maus lençóis", se calhar está na altura de pô-los a lavar... 





terça-feira, 14 de março de 2017

PENSAMENTOS DO TIMÓTEO



Hyuro

Pensamentos de um osso à moda do Gustavo:

"As cicatrizes curam-se com o tempo, se as suas ainda estão na mesma, é porque este, não é o seu tempo..."

Sr. Timóteo do Lavradio

domingo, 12 de março de 2017

quinta-feira, 9 de março de 2017

TEATRO MERIDIONAL






Até dia 12 de Março ainda há tempo de revisitar Ionesco numa soberba interpretação de Elsa Galvão, Miguel Seabra e Sara Barros com encenação de Miguel Seabra.

Como Joseph Goebbles dizia: "Uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade".

Hoje, cabe aos cidadãos tentar descobrir a verdade no meio do discurso politicamente (in)correcto, para que o absurdo não se torne a nossa realidade.

MONDRIAN REVISITADO


Piet Mondrian  - collage - Roberto - Voorjib


Piada seca do dia:

- Estás com boa cara. Que andas a tomar?

- Mondrian!

sábado, 4 de março de 2017

PRAÇA DE ESPANHA



Vincent Mahé - Pinterest



Aproximo-me dos semáforos da Praça de Espanha para dar a volta em direcção ao IPO.(1) Um homem, na casa dos quarenta, com um fundo de garrafa de plástico pendurado numa das muletas, que manobra com destreza pelo meio do trânsito parado, exibe a sua perna direita amputada pelo tornozelo enquanto pede umas moedas. Já não via estropiados desde que, em miúdo, o Fanan, diminutivo de Fernando António, que pusera um pé numa mina em Angola durante a guerra colonial, andava pelos prédios da rua D. Carlos de Mascarenhas, amparado pela mãe, com uma fotografia ao peito a pedir por mor dos nossos pecados. A minha mãe dava sempre vinte e cinco tostões porque não podia dar mais e uma fatia de bolo de iogurte que acabara de fazer e que eu nem nunca lhe punha os beiços em cima, porque era para quando aparecessem visitas inesperadas ou aparecesse alguém mais necessitado que nós, e eu, ingenuamente, a desejar ser mais necessitado que eles para não precisarem do nosso bolo. O estropiado continua a cirandar pelo meio dos carros a pedir moedas. Vou ficar quietinho e fingir que não o vejo. Se não o vejo, não existe. A doença ou o desemprego ou ambos, tornam-nos egoístas ou indiferentes, mais indiferentes que egoístas, amputados, talvez, pois perdemos parte da nossa sensibilidade. Por isso deixamos de sentir.
O sinal abre, os carros arrancam, contorno o relvado do meu lado esquerdo e sigo, finalmente, na direcção do IPO. As motas têm acesso a estacionamento livre debaixo de um telheiro.
Tudo começara de forma simples e bruta no momento da entrega da biópsia ao médico.
- Oiça lá! O seu seguro de saúde cobre internamento?
Naquele momento só conseguimos pensar que Deus, se existe, é um cabrão que está a gozar connosco. Depois do desemprego, a doença, só pode ser praga bíblica e o médico a afiançar que isso da responsabilidade partilhada entre Deuses e Demónios era coisa da literatura e que as incertezas da medicina se resolviam com experiência e terapêutica.
Ficamos sem fala, achamos que é uma piada apesar da rudeza do clínico.
- Não ouviu? O seguro cobre internamento? Deixe estar. Vou escrever-lhe uma carta para entregar. Piso zero, gabinete oito, urologia, amanhã, sem falta!
O IPO é um espaço antigo, grande, esmagador, uma série de edifícios com história e histórias, vegetação circundante e colorida onde passeiam galos, galinhas, pavões e outros animais a que deixamos de prestar atenção. As ambulâncias açambarcam todos os bocadinhos de estacionamento; cantos, rectângulos, nichos, reentrâncias, restos de alcatrão e raízes de árvores à superfície. Depois do processo burocrático, a primeira consulta num gabinete acanhado, com a funcionária a desdobrar-se no apoio a três médicos ao mesmo tempo. Entre a detecção, avaliação e análise, a entrada no automático e a junta médica para avaliar o grau de incapacidade, o tratamento decorre em menos de um fósforo. O choque seguinte é perceber que a doença exige vigilância constante, sem compromissos, a que se seguem exames, análises, densidades, fluxometrias, injecções, cateteres e repetição de exames, análises, densidades, fluxometrias e injecções… Ouve-se o movimento das macas a deslizarem nas calhas dentro das ambulâncias, as portas a fechar, as visitas que chegam, o peito amputado que era só um e que acabaram por tirar os dois, o Estado que não financia a cirurgia de reconstrução estética, nem a cirurgia para recolocar os dentes que pareciam gesso e se desfizeram com a quimioterapia.
Finjo que não oiço. Se não ouvir não aconteceu. Hoje, foi tempo de marcar os pré-operatórios e explicar sumariamente a intervenção, as marcações, a dieta, e depois é entrar numa quarta-feira, levar a radiação na quinta-feira e sair na sexta-feira. Muita água, pensamento positivo, nada de bicicleta ou outros disparates.
Saio e dou de caras com a minha vizinha do quinto andar que nem sabia que andava aqui e está com um lenço na cabeça. Não me viu. Eu não a vi. Não aconteceu, certamente. Dirijo-me para o parque das motas, abro o fecho do bolso, e tiro as chaves que coloco na ignição. Dou uma olhadela ao telemóvel à procura de chamadas perdidas, gesto maquinal e inútil, um desempregado é um lugar vago na agenda.
Saio do IPO e contorno a Praça de Espanha em direcção ao Monsanto, mas a meio, acabo por encostar-me à faixa mais à esquerda para dar a volta em sentido contrário. Torno a passar pelos semáforos que, entretanto, ficaram verdes e desta vez, olho, e vejo que o estropiado continua lá, e existe, ainda que num pedaço de memória da infância a fazer companhia ao Fanan que pôs um pé numa mina em Angola...
(1)    Instituto Português de Oncologia