sexta-feira, 13 de outubro de 2017
TARDE
Foi numa tarde cinzenta, de
despedida, que te guardei e é aí que, de vez em quando, te vou buscar. Sinto a respiração profunda e o um certo alívio ao fechar os olhos e fingirmos que
nada aconteceu.
FOLIO
Começa Hoje!!
A terceira edição do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos até 29 de Outubro, sob o tema Revoluções.
A programação completa do FOLIO está disponível aqui e informações adicionais podem ser consultadas na página Óbidos Vila Literária.
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
TRANQUILIDADE
A razão envenena a tranquilidade e o tédio agarra-se ao corpo como réptil viscoso, porque não desce o anjo a anunciar a inutilidade da impaciência já que tudo é curto e finito?
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
MADONNA NAÇÃO VALENTE
Por estes dias, os jornais mostram uma Nação Valente que se levanta com o futebol, que já se esqueceu de Pedrógão, da dívida, da seca, mas que não perde um episódio da Madonna em Portugal a fazer lembrar os livros da Anita: Madonna tossiu, Madonna espirrou, Madonna procura casa, Madonna monta a cavalo, Madona ficou feliz com a selecção. neste rectângulo provinciano a correr em grande lufa-lufa, rapidamente e em força, a caminho do Portugal dos Pequeninos!
terça-feira, 10 de outubro de 2017
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
O NOBEL DA LITERATURA
"Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas."
António Lobo Antunes
Não, não foi para o Lobo Antunes, o Nobel foi para Kazuo Ishiguro - "Para fazer o mundo feliz". Desta vez, sem direito a viola ou harmónica...
A ÚLTIMA CENA
Photo by Tom Barrett on Unsplash |
Nem chegou a saber o que aconteceu no jantar.
Uns acordes de jazz, Miles Davis a acompanhar bebida e discussão,
uma dor de cabeça, outra de alma
e os olhos vazios presos na última cena.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
domingo, 24 de setembro de 2017
A FÁBRICA DE NADA
Exposição Portugal Flagrante Centro de Arte Moderna Gulbenkian |
Hoje fui ver A Fábrica de Nada, em conjunto com Eu, Daniel Blake e São Jorge completei a trilogia em torno de um maior denominador comum: o desemprego. Se em Eu, Daniel Blake nos sentimos esmagados perante a falta de sensibilidade da funcionária da Segurança Social imune ao desespero de quem espera uma resposta, uma solução ou um milagre e se em São Jorge nos confrontamos com o mundo dos abutres das "cobranças difíceis, em A Fábrica de Nada expõem-se causas, dramas, conflitos no interior da engrenagem capitalista, no seu ritmo inexorável de confronto e derrube de qualquer tentativa de resistência, assistimos ao discurso dos trabalhadores cuja única exigência é ter trabalho, ao discurso dos intelectuais sobre o fetichismo mercantilista, da actualidade de Marx, blá, blá, blá, do protagonismo do tempo, personagem pesada no drama do desemprego. No final, abre-se uma porta de esperança na figura da auto-gestão, no confronto discursivo entre o trabalhador e o intelectual no acerto de contas social que resume tudo a uma única frase: A divisão não se faz, hoje, entre Esquerda e Direita, mas entre os que querem viver no sistema e o aceitam, ainda que em regime de escravatura e aqueles que estão dispostos a abdicar dos telemóveis , dos carros e do conforto capitalista, luta inglória num tempo em que cada vez há mais gente a querer passar para o outro lado, num mundo em que a vida particular se desmorona para além do dinheiro e da crise, do divórcio e dos amigos que se evaporam, dos colegas iludidos na velha máxima de que só acontece aos outros, mas ela está aí, a porta entreaberta de esperança, indicada no filme com um caminho a seguir: Resistimos?
A não perder.
quarta-feira, 12 de julho de 2017
REVISTA LION
https://issuu.com/isabeloliva-teles/docs/revista_lion__net_ |
A Revista Lion teve a gentileza de me entrevistar. entre as memórias da escrita, os romances e autores preferidos, significados e esperanças, sobressaem duas páginas de entrevista excelentemente conduzida pela Isabel Moreira numa revista de grande qualidade e de impacto social.
domingo, 9 de julho de 2017
O POETA LUNÁTICO
A mãe dissera-lhe, em pequeno, que se fosse sozinho na vida seria um
cabeça no ar e ele encolhia os ombros e voltava-se para a floresta que
se estendia à sua frente, emoldurada na janela do casarão antigo,
herança de família que muito custava a manter hoje por força das
finanças. A casa fora ganha ao jogo pelo seu bisavô, que roído pelo
remorso, distribuíra todo seu dinheiro e propriedades por gente
necessitada deixando o imóvel a cargo da família. Do alto da copa de
três castanheiros voaram alguns corvos que lhe pareceram abutres atrás
do cheiro de carne putrefacta de guerreiros japoneses tombados numa
planície. Tinha noção do tamanho fértil da sua imaginação perdida no
meio de índios e cowboys da infância, naves espaciais e legionários
romanos. Para além da imaginação, fazia versos. A mãe tinha apreço, como
dizia habitualmente, por ele se mostrar um rapaz sensível, mas temia
que isso se tornasse numa imprudência. A poesia, com o que ele deitava
cá para fora, podia ser um óptimo divã para psicanálise, mas colocava-o
em risco ao expor de forma tão desabrida o que lhe ia na alma e poderia
acabar por ter que pagar uma tremenda factura. Em pequeno, era um rapaz
muito linear, contido nas palavras que não fossem poéticas. Gostava de
ficar, aos domingos de manhã, a ver documentários sobre bichos,
florestas exóticas, populações indígenas e logo a seguir ao almoço, lia
as tiras de banda desenhada dos jornais depois do pai fazer as palavras
cruzadas. Durante a tarde dormitava e lia uns versos de Sophia, à noite,
para tirar o fastio das letras via um episódio do Homem Aranha no canal
dois. Nas suas leituras e pensamentos sobrava espaço para pensar na
morte por encontrar nela uma harmonização, uma espontaneidade disponível
e democrática. A sua dedicação ao estudo da poesia e da morte, o seu
interesse em forças ocultas e temas de baixo relevo no pensamento
filosófico cresceu com a idade adulta e advinha da sua convicção de não
se sentir propriamente dotado para o que quer que fosse, interessando-se
por aquilo que os outros consideravam não ter interesse. Isso
trazia-lhe alguma auto-estima pela superioridade do seu gosto pelo
artístico e pelo sublime. Achava que ser normal era muito mais difícil e
dava muito mais trabalho, sendo mais fácil abandonar-se a uma estrutura
minimalista, outras vezes achava que era precisa muita coragem para se
sentir perdido e que a realidade era, por si só, suficiente para o fazer
perder tempo e que ele só inventava coisas porque estava desempregado,
era alarve, insaciável e manifestamente indecoroso, contendo-se para não
ficar refém da felicidade.
sábado, 8 de julho de 2017
PAÍS A PRAZO
"Num país em que tudo é a prazo, empregos a prazo, contratos a prazo, relações amorosas a prazo, ele sentia-se fora de prazo porque ainda não conseguira trabalho.
A rotina de um desempregado é demolidora. Mergulhava numa angústia terrível de cada vez que se sentava à secretária para seleccionar os anúncios adequados ao seu perfil. Enviava dezenas de cartas todos os dias. Raramente recebia um telefonema para se apresentar numa entrevista (...) a primeira coisa que um desempregado perde é o orgulho. Mais tarde também perde a compaixão dos que o apoiam."
IN, O Tibete de África. Margarida Paredes
quarta-feira, 5 de julho de 2017
COVA DA MOURA
5 de Julho de 2017, dia de visita guiada ao Bairro da Cova da Moura através do guia da Associação Moinho da Juventude. Um olhar diferente sobre um bairro de gente jovem, que se esforça por manter uma cantina social que serve refeições diárias a crianças e aos mais necessitados. Mesmo ali em frente, na Força Aérea, alguns oficiais faziam contabilidade criativa na messe, mais batata menos batata, triplicavam preços e praticavam ilícitos enquanto outros lutavam contra a carência. Mais batata menos batata, estabelecem-se prioridades, responsabilidades e ética ou falta dela. Siga a Marinha...
sexta-feira, 16 de junho de 2017
PRÉMIO NACIONAL DE LITERATURA LIONS DE PORTUGAL
Cerimónia de entrega na Quinta da Salmanha 15/06/17 |
Surpreendido e muito feliz, é
como me sinto por ter sido distinguido com o Prémio
Nacional de Literatura Lions de Portugal pela novela "Psicopatia das Pessoas de Bem".
O Prémio Nacional de Literatura
Lions de Portugal, no valor de 2.500 euros, destina-se a galardoar o autor de
uma novela inédita, através do qual, a Associação Internacional de Lions Clubes
- Distrito Múltiplo 115, patrocinada pela Fundação Lions de Portugal, pretende
contribuir e estimular a produção e divulgação desta produção literária inédita
junto da população em geral. O Prémio, que nas edições anteriores galardoou o
escritor João Morgado e a escritora Patrícia Reis veio, desta forma, trazer um forte
contributo e incentivo para uma escrita irreverente e uma maior responsabilidade
para o futuro. Quero agradecer, também, o carinho e a simpatia de todos quantos
tornaram este 15 de Junho grande e ajudam a tornar grandes, os dias de todos os outros,
através da sua actividade de voluntariado e intervenção social de uma entidade
que conta já com cem anos de existência.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
ENTREVISTA COM ANA MARQUES
Ana Marques nasceu em Lisboa em 1969 e formou-se em Medicina Veterinátia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real onde veio a leccionar Patologia Cirúrgica. A paixão pelas letras, desde cedo, que rivalizou com o amor que tem pelos bichos, tendo editado o livro de poesia "Abraçar o Sonho", edição de autor em 2010, e o livro de poesia "Barriga de Poemas", pela Editora Vieira da Silva em 2014.
Actualmente dedica-se à prática clínica de animais de companhia em Belas e mantém o blogue A Generosidade de Estranhos
1.
O que é, para ti, escrever?
Escrever é um modo de evasão. Uma maneira de sair do mundo
real/convencional e passar a um outro mundo onde não se aplicam as mesmas
regras. Escrever é ao mesmo tempo desbravar e construir esse mundo.
Há outras maneiras de conseguir isso, não é só a escrita que o
permite. Há quem largue tudo e vá correr o mundo a pé, outros vão combater na
guerra (podem até ter causas nobres), houve povos que o fizeram de forma
literal: pegaram em caravelas e fizeram-se ao mar em busca de novos mundos,
entre eles uns tais de portugueses...
O que a escrita permite é manter os dois mundos ao mesmo tempo.
Entrar e sair deles a nosso bel-prazer. Sem necessidade de grande esforço ou
especial coragem.
São janelas e portas que nos permitem saltar, em silêncio, de um
mundo onde as leis estão definidas e conhecidas para outro que espera que
sejamos nós as ditá-las, de acordo com a nossa imaginação.
A escrita permite compartimentalizar
dois mundos que são opostos: o da razão e o da fantasia.
Há quem viva sempre na fantasia, nada contra. A escrita é,
talvez, muito útil a quem não quer abdicar de nada.
2.
A poesia está na moda, fora de moda ou não vai em modas?
Está e não está. Ou seja, em termos de forma a Poesia vai em
modas. Em termos de conteúdo creio que está para além da moda porque ela é
universal e intemporal.
Gosto muito de um livro, uma antologia de Poesia que foi
publicado em 2001 para celebrar o facto de o Porto ter sido em 2001 a Capital
Europeia da Cultura, chamado “Rosa do Mundo”,
2001 Poemas Para o Futuro. É calhamaço que abarca a poesia conhecida ao
longo da História, desde as civilizações mais remotas até aos autores nascidos
em 1945. Estamos a falar de poesia fixada pela palavra escrita ao longo de
milénios.
O que é que podemos ver nesta viagem tempo/espaço sobre a Poesia
no Planeta? A forma muda, vai variando, às vezes com rima, outras sem rima, às
longa outras curta e pode até haver ciclos como na Moda em geral mas o
conteúdo, a substância, a essência, essa é sempre a mesma porque no fundo, a
Natureza Humana é só uma. A Rosa do Mundo é intemporal. E conseguimos perceber
tão bem um homem que viveu na Etiópia há três mil anos como um português do Sec
XI que escrevia uma cantiga de amor ou de amigo.
Deixo um exemplo:
(Etiópia, Oromo)
Copla
de Amor
Se eu fosse
um touro,
Um touro, um
belo touro,
Belo mas
teimoso,
O mercador
comprar-me-ia.
Comprar-me-ia
e matar-me-ia,
Esticaria a
minha pele,
Levar-me-ia
para o mercado.
A mulher
grosseira tentaria negociar-me em vão,
A bela
rapariga comprar-me-ia;
Amassaria
aromas sobre mim.
Eu passaria
a noite enrolado à sua volta;
Eu passaria
a tarde enrolado à sua volta.
O seu marido
diria:” é uma pele morta”!
Mas eu
estaria junto do meu amor.
A constância da Natureza Humana não é, no entanto, um dado
adquirido para o futuro, apesar dos milénios no passado a bater nas mesmas
teclas (o Amor, a Morte, o Ciúme, a Guerra, a Saudade, o Tempo, etc.)
Leio, volta e meia, umas notícias que dão como certa a
necessidade do Homem se fundir com alguma forma de inteligência artificial para
sobreviver enquanto espécie. Ora a inteligência artificial é capaz de ser muito
útil para resolver uma imensidão de problemas complexos. Como será a Poesia
nessa Era não consigo prever. Aliás, nunca ouvi a expressão “sensibilidade
artificial”. Será a Poesia capaz de perdurar em tempos biónicos? Espero que
sim.
3- Fala-nos um
pouco deste teu Poémica e onde o podemos adquirir ou encomendar.
Poémica é um conjunto de poemas escrito em 2014, que conta, ou
pelo menos tenta (os leitores o dirão), uma história muito simples. Já escrevi
muita poesia depois disso, alguma até me parece mais bem conseguida, mas, até
agora, e muito provavelmente, nunca inventarei uma colecção de poemas tão
coerente e coesa. Por isso tenho um carinho especial por este livro apesar de
estar a sair com 2 anos de atraso (deveria ter sido em 2015). Poderia escrever
um livro sobre a elaboração deste livro, tais foram as peripécias que
atrapalharam esta edição. Valeu a pena esperar pois, entretanto, descobri a Ana
Amil, a Designer Gráfica que trabalhou o miolo e fez a capa maravilhosa deste
Poémica e me fez esquecer as dificuldades passadas.
Quem quiser adquirir o livro pode contactar-me por mail (dra.anamarques@gmail.com), através
do blogue A Generosidade de Estranhos http://agenerosidadestranhos.blogspot.pt/, ou através
do Facebook, Twitter, Instagram ou ainda no dia do lançamento que será lá mais
para o final do ano.
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