Mostrar mensagens com a etiqueta Ponte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ponte. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
quarta-feira, 18 de maio de 2016
UMA PONTE ENTRE DUAS MORTES
Antony Gomley |
A cada passo irrito-me com o
absurdo do fascínio que sinto por tudo o que não entendo e que me magoa. O
mundo só é grande porque o céu fica acima das estrelas e pergunto-me: o que
preciso fazer para me sentir seguro ou livre. Desce o silêncio. Desce
sempre, E fico assim hirto, como o filho do meu vizinho de infância que ficava horas a mandar pedrinhas à janela da nossa casa por inveja, porque lhe dava gozo, porque devia andar cansado do seu corpo e com vontade de lhe
ordenar que o largasse, se pudesse
pendurava-o num cabide e procurava noutro corpo a novidade e então podia gozar
a luz do outono, tranquila, a passar num murmúrio e a segredar-lhe que a vida
era uma ponte entre duas mortes.
terça-feira, 17 de julho de 2012
A PONTE
Do mundo conhecia-lhe apenas o peso carregado em ombros, moldado na plasticidade da palavra com que brindava os dias. O destino a fazer-se cúmplice e a vontade a desenhar-se no corpo e a perder-se na curva doce do seu olhar,numa breve pausa, percebendo , então, num flash de memória da infância medida na explícita aritmética da Dona Rute onde dividia amiúde cestos por laranjas com resto zero, coleccionava reis e rios de Portugal no caderno de história e geografia ou no manifesto pavor de alturas que o impedia de atravessar pontes , que o melhor de tudo acontecia nos intervalos, com a vida a olhar de soslaio e a deslizar enquanto a morte se distraía, que o tempo era tão antigo e disperso como as naus para a Índia, que ganhar o mundo era levantar os olhos do chão, medir a distância em sonhos e sorrisos, sentir-lhe a pele com cheiro de giesta e urze no final da tarde e render-se àquele olhar a desnudar-lhe alma e uma vontade imensa de descobrir se o amor morava para lá daquela ponte rasgada sobre as margens de Neruda.
Momento tão intenso quanto breve, o tempo suficiente de lhe ler na profundidade do olhar o convite para a travessia da ponte e ele,esboçando um sorriso sôfrego e inocente, indicando que, sem se dar conta, já levava mais de meio caminho feito…
Subscrever:
Mensagens (Atom)