segunda-feira, 16 de março de 2015

PELO LADO DE DENTRO



Egon Schiele







Procuro seguir a vida pelo lado de dentro fazendo as curvas com cuidado. O desejo tem sempre muita pressa e eu gosto de abrandar, de ver pelo avesso, de contar pelos dedos as vezes que o passado nos marcou a vontade ou a falta dela, a perda, o desleixo. Fui-te remendo, pedaço, cola, nota de rodapé, derivação regressiva do verbo amar... E isso já não me basta. Incomoda-me não ser eterno, não ter certezas, não conhecer Marte, não acabar a nossa história com um substantivo concreto. No movimento entre o barco e o cais, não somos nós que partimos, é o mar que chega. Dispo, então, o meu melhor poema que foste tu a sorrir a meu lado com cheiro de manhã. O silêncio é a nossa deixa para seguir viagem. Do corpo não se guarda nada, apenas a memória que sobra do momento em que o suor foi magia.

2 comentários:

  1. É na memória do corpo que reside, também, a dos afectos.

    Lindo, Luís!

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  2. Valeu a pena o tempo para publicação deste texto.
    É precioso.
    Parabéns, nobre Escritor.

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