terça-feira, 29 de novembro de 2016

VAMOS LÁ VER SE EU PERCEBI







Vamos lá a ver se eu percebi…

O governo convida um indivíduo para presidir ao banco público no qual, nós, contribuintes, vamos enterrar dois mil milhões de euros na sua recapitalização. O indivíduo ia empochar 423 mil euros/ano, mas sem a maçada de ter que tornar pública a sua declaração de rendimentos. Da esquerda à direita ninguém contestou a exorbitância do salário. O homem demite-se. O BCE espera, a direita regozija-se com a demissão e tudo está bem, a esquerda diz que a culpa da demissão é da direita e tudo está bem, o presidente, travestido de cicerone de monarcas não eleitos, assobia para o lado e tudo está bem. O demissionário não justifica a demissão. O governo, bom aluno, não precisa de explicações e prepara novos convites para torrar 423 mil euros de salário e tudo está bem. O povo não reclama, o Benfica encavou o Moreirense e tudo está bem….

Eu não percebi, mas “prontos” está bem!

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

CHOCOLATE SUÍÇO









Que bom que é abrir a caixa do correio e ter lá dentro um chocolate suíço vindo da... Suíça...
Uma gentileza da Domingas Duarte que, lá dos Alpes, para além de acompanhar desde longa data os textos, as letras e escritos que aqui vamos semeando, se lembrou, também, de açucarar o meu dia. Obviamente, o chocolate terá um prazo de vida curto, fonte de energia e inspiração para novas palavras. E que a gente continue a cruzar caminhos desta forma porque é desta forma que o mundo se torna melhor.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

MÃO-DE-OBRA



Foto de Iamsrook



Liberto o desejo para que soubesses a que distância estamos de nós. As palavras são teimosas e sem idade, sem caminho ou companhia. O amor está parado por falta de mão-de-obra, à espera que o vento mude, enquanto se movem os girassóis e a tarde se estende com vontade de ser luar.


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

PAISAGEM



Anna-Parini-Illustration-G-Health-Self-Injure-Boston


A crónica na Revista Caliban: https://caliban.pt/paisagem-53e18d87f9d9#.fhkn6gtlh

O tempo foi avesso connosco, nas linhas que nunca conseguiu cruzar.
Hoje já não há passado distante, só um tempo múltiplo, espartilhado, com a vaidade a ostentar-se, como se tudo fosse eterno e o azul do mar não fosse mais que uma metáfora protagonista de um desarranjo textual.
Não sei onde raio fica a paisagem, mas sei que o caminho segue o teu olhar.
Acomodo-me na inércia, nessa brincadeira camuflada onde se esconde o perdão.
O sol já se pôs, uma fímbria de dependência que se fundiu no efémero, aqui jaz outra noite, momento em que o eterno se torna no instante em que te beijo.
Eu gosto da rotina,
do silêncio,
da parte secreta de mim que tenho vergonha de contar:
dois dedos tortos, um olho míope, nervos, sinusite e triglicéridos altos.
Encontro nos teus olhos a poesia que falta na composição da análise.
Resta-nos, no infinito das palavras, o momento em que te despi e trouxe as asas.
A lucidez vive nua…

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

OCUPAR ESPAÇO



Ibou More

Ele pedira uma vida emprestada, uma que fizesse sentido e tivesse um bocadinho de cor, que a primeira, passara por si cheia de pressa e ele ficara sem perceber se andara por aqui, apenas, a cumprir calendário ou a ocupar espaço.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A LISTA DO ROCHA ANDRADE - MUNDO PERDIDO





A Madonna promete sexo oral em troca de votos na Hillary, o Pinto da Costa vai trocar de namorada, um “piloto” anda a voar baixo nas barbas da polícia, a Europa está em crise, mas chegou a Marte,  o Medina rebenta com Lisboa e o Rocha Andrade tem uma lista…

Querem ver que só falta o presidente da CGD ganhar 423 mil euros??

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

CHOQUE EMOCIONAL



Brad Yeo
A crónica desta semana na Revista Caliban


Um dia, ao acordar, sentiu um zumbido no ouvido direito, uma espécie de filtro que o impedia de ouvir com clareza e uma tontura que rapidamente degenerou em vertigem.

Virou-se para o lado esquerdo e colocou as mãos sobre a cabeça, com sorte e um pouco mais de descanso, talvez o zumbido e a vertigem desaparecessem, mas não…
Duas horas depois continuava inquieto e às voltas, com a mulher aborrecida,que nem iam à praia nem nada e o miúdo que não saía do computador e ele a dormir, a bocejar, tonturas, vertigens e o que mais viesse, que fosse às urgências, que aquilo de ficar deitado o dia todo num sábado de sol era coisa de velhos.
E ele foi derreter a existência nas quatro horas previstas de espera, impressas nas letras miudinhas da senha da triagem. A médica era simpática e estava com boa disposição. Exames, análises, testes, catéteres, soro e perguntas, muitas perguntas.
“Choque emocional!
 É stress!
Tem alguma coisa que o atormente? Anda a fazer alguma coisa contrariado?”
Não! Tirando o pormenor de me encontrar sem trabalho há mais de um ano, frequentar uma inócua formação do centro de emprego depois de vinte cinco anos de devotada dedicação ao banco, onde me dilui no tratamento de avales, letras e livranças e que só suportava pela ênfase dada por amigos e vizinhos aos juros baixos, férias e regalias dos SAMS,
que até podiam aproveitar e comprar uma casa maior pelo preço de um T qualquer coisa em Cascais, ter filhos, cão, periquito, escritório, marquise e ainda sobrava espaço,
e de ter acordado, só agora, numa assoalhada da andropausa, sem força nem paciência para as pequenas arrelias da vida, com despeito pela futilidade de quem vivia alienado nas manhãs da TV a bater palmas e a ganhar robots de cozinha… Não! Tirando isso não tenho nada a atormentar-me.
Betarsec debaixo da língua e mais uma drageia para a vertigem durante uma semana e fazer exames daqui a cinco dias”.
Passaram três meses, continuo tonto e com zumbidos, sem a mesma força nem disponibilidade para derreter mais quatro horas, do precioso fio do tempo, no hospital, que isto da existência, também tem o seu preço.
Não doutora, o único choque emocional é o da minha cabeça, sem ginástica suficiente para perceber a dinâmica do mundo, pequenino e cinzento, que se fecha todos os dias, um pouco mais, mesmo à minha frente…

terça-feira, 4 de outubro de 2016

KRISTALINA






Psst!... Ò Kristalina... Não é por aí...


https://www.noticiasaominuto.com/mundo/663987/russia-anuncia-que-vai-apoiar-uma-mulher-da-europa-do-leste-para-a-onu

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

FRAGILIDADE



Antony Goomley

* A minha crónica desta semana na Revista Caliban

https://caliban.pt/fragilidade-1e0185eeb015#.hkenojp77



O mundo está frágil, de uma fragilidade constante que compromete a nossa segurança e nos faz distrair com minudências. Torno-me claro quando escrevo, de forma coerente, sobre a memória que me chega às prestações ou é o dia que se torna leve quando junto palavras para recordar coisas boas e outras assim-assim, como o senhor Manuel a chorar mágoas, no regresso apressado de Angola resumido à categoria de sonho, com léguas de distância, trinta anos e mãos vazias.
Trinta anos depois já era muito tarde para se recomeçar o que quer que fosse…
muito tarde”,
expressão castradora, por sinal, o caminho mais curto e irreversível para acabar de forma atabalhoada e peculiar na inércia que teima em acompanhar-nos ao longo de séculos.
Aos poucos, acabamos por voltar sempre ao sítio das recordações, novelo de corda, sem fim, afundando-nos lentamente, neste cais, parapeito imenso, onde apodrecemos numa espera antiga e viciada, sem vontade ou iniciativa, sem alguém que ponha mão nisto, que pense por nós, com ideias e energia suficiente para acabar com a nossa desgraçada facilidade com que continuamos alimentar a mediocridade endémica, que se põe em bicos dos pés para “inglês ver, sequela da orfandade adquirida em Alcácer kibir e que continuamos a amenizar. O paradigma da sociedade mudou, mudou-se, mudou-nos, inebriados que estávamos com o bem-estar, o dinheiro e o conforto a quem prestamos vassalagem descarada. A superficialidade e o ressentimento mantêm-nos ocupados. Tornámo-nos mutantes e vivemos vidas de empréstimo nas novelas ao sabor de cada novo episódio. Fazemos sacrifícios, gozamos com a tragédia, não queremos chatices, evitamos o confronto, aceitamos tudo, esfregando as maõzinhas como o Eusébiosinho do Eça e assim nos perpetuámos e perdemos relevância no grande drama histórico universal a gastar tempo com insignificâncias, tudo aconchegado pela falta de leitura e reflexão, aceitando regras com remoques, receita ideal para o pandemónio em que a nossa existência se transformou e que, paulatinamente, ajuda a desmantelar a frescura, a personalidade e a nossa vontade colectiva, se não nos desfragilizarmos a tempo…