Mostrar mensagens com a etiqueta Livro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Livro. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 2 de março de 2016

A FATWA





Vivem-se tempos muito sombrios em Portugal. 

" Não concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o dizeres." 

Palavras de Voltaire que os obscuros incomodados que alimentam a campanha orquestrada nas redes sociais, saudosos da linha de pensamento único, desconhecem. Depois de terem exibido, galhardamente e em júbilo, no Youtube, a queima do livro, depois das ameaças e chantagens, falta, apenas, lançar uma fatwa a ordenar a execução do autor.
Khomeini não faria melhor.
Não era suposto, neste novo tempo do homem novo, assistir a tamanha... incultura... Isto só para ser fofinho.




quarta-feira, 24 de julho de 2013

QUER ESCREVER UM BEST SELLER?

Pintura de Karin Jurick...

E hoje, depois de ter recebido este mail de uma amiga: 


"L M
19:06 (há 5 horas)


para mim
Caro Luis,

Desculpe não lhe ter dado conta dos resultados do meu contacto com a *****, mas foram tão desmoralizantes que nem me apeteceu escrever sobre o assunto. 

"Catálogo fechado nos próximos dois anos" - foi a resposta. 

Para bom entendedor...  "

Para  além de achar que muitas destas editoras não chegam a 2015,  decidi fazer um pastiche de  um texto do Roberto Gomes e fugir um pouco ao "catálogo" do nosso blog.

Quer escrever um best seller?

Reúna algumas palavras delicodoces, enjoativas mesmo, misture-as com um pouco de mistério kitsch, dê-lhes muito movimento, cor e ruído. Junte mais duas alminhas cujos corações ainda não sabem que gostam um do outro, um pouco de drama um pouco de humor, sexo e um enredo lendário. Alguém que descobre uma mensagem sobre fadas e unicórnios e que só consegue decifrar metade da mensagem. Gaste metade do livro a apresentar as personagens, de preferência ocas, planas, vazias e sem densidade psicológica e a outra metade a decifrar o mistério… Junte-lhe ainda lágrimas e clímax, mexa rápido e volte ao ponto de partida. Repetir tudo de novo. Tire umas fotografias com Photoshop. Publique no Facebook umas frases elaboradas, tipo filosofia de alcova, adicione elogios a terceiros, junte também, moderadamente, auto-elogio. Faça umas poses, adicione-se a tudo o que é rede social e faça likes à bruta nas frases básicas dos colunáveis que pululam nas redes. Alguns deles gostam de ser bajulados. Faça-se amigo e comente os blogs  onde regurgitam baba literária de sucesso repentino. Daqueles que falam na casa com piscina, nos empregados e dos metros quadrados que distam dos mosaicos da cozinha até ao conforto e arrojo da estética dos sanitários.  Pense sempre em dinheiro e não tenha quaisquer veleidades literárias. Escrever em inglês abre portas.  Se escrever em português, inspire-se nas traduções de best-sellers em português pedregoso. Não faça dietas à base de Aquilino, Camilo ou Saramago, mas antes assim ao estilo rasteiro do José Rodrigues dos Santos. Tal como ele. Use personagens ocas, planas e sem densidade psicológica. Não complique. As mulheres são sempre jovens e bonitas. As feias são sempre sofridas e tristes. As bonitas são burras. Pelo menos um dos personagens deve imaginar que tem por missão salvar o planeta. Apresentados os personagens, crie um conflito. Soa-lhe igual a tanta outra coisa? Paciência!  Não se chateie: você quer ganhar dinheiro e não convém estar virado para originalidades. Há quem faça isso, nas novelas, anos a fio e ninguém se importa. Aflore, en passant, uma ligação com o Vaticano ou com a Maçonaria e pronto! Está no bom caminho. Se não sabe inventar enredos não faz mal. Faça como a Clara de Sousa: Junte meia dúzia  de receitas de culinária da sua avó querida, arranje uma capa gira e ponha uma maquilhagem forte.  A banalidade é a chave do sucesso!