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terça-feira, 20 de junho de 2023

MAPAS DO CONFINAMENTO

 




Após prolongada ausência, é com satisfação que volto às letras, com uns textos na revista Mapas do Confinamento, com um agradecimento especial à Gabriela Ruivo Trindade.


ESTUÁRIO


O estuário está seco e eu estou ansioso em velocímetros de extermínio, prazer no intervalo entre estações, de comboio, claro está.


Um abajur de lua envelhecida e um amante volúvel em urgência inquieta, na alvorada de falsos poemas, trabalha em metalurgia pesada com palavras moldadas no ferro. Para trás a doce apatia.


Perecível marinheiro na soleira da raiva, mexe-se em instante pecado.


A véspera do Natal é sagrada, lembro-me disso em 1961, o amor de mãe não cumprimenta a arritmia da Guiné e o Spínola bebeu champanhe do monóculo, refugiado no seu casulo a finalizar um discurso na derradeira demora.


Numa falência de gestos, enquanto o porteiro comia nêsperas com sofreguidão, deu-lhe uma dentada na pele postiça, no tempo do café ao postigo, pós traumático e pós moderno. No deserto não chove.


A noite caiu súbita, metade de mim adormeceu, guardando-nos na algibeira de quem mais amo, sei lá eu quem mais amo. Talvez num poema de insónia ou na companhia do Dostoyevsky.


No porto de abrigo os sôfregos redimem os excluídos em moldes de gesso.

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