A última crónica na Revista Caliban
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Entrou no autocarro com os sacos de compras e conseguiu arranjar um
lugar lá no fundo. Sentou-se, pôs a mala no colo e os sacos apoiados no
chão entre as pernas. Olhou de soslaio para as formas musculadas de um
rapaz novo sentado ao seu lado. Achou que seria um tipo de confiança
para passar uns bons momentos e deu-lhe, logo ali, uma vontade que até
então nunca tivera, de sair na paragem seguinte, agarrar-lhe no sexo,
dizer-lhe que era uma fêmea com cio, sedenta de se esfregar no seu corpo
e apanhar um táxi para uma pensão reles, mas acabaram a falar na
família, irmãos, primos e tios, a crise, o desemprego, e o trânsito que
estava uma merda. Resmungaram o nome um ao outro, ele deu-lhe o número
de telefone a imaginar que era a mulher que ele queria, ela saiu, olhou
para o cartão, sorriu, suspirou, sentiu uns calores e olhou para o
relógio. Estava em cima da hora, daí a pouco chegava o marido, irritado e
deprimido por se encontrar sem trabalho, capaz de moê-la de pancada se
não tivesse o jantar pronto e a sogra já devia ter a fralda toda
molhada…
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