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domingo, 19 de maio de 2013

ENTREVISTA COM JOSÉ LEON MACHADO



Recuperando uma  entrevista ao professor e autor José Leon Machado, concedida ao nosso espaço em 2010, que julgava perdida por problemas  técnicos e que mantém uma actualidade preocupante.


O convidado desta semana, que gentilmente acedeu ao nosso pedido é o professor José Leon Machado. Nascido em Braga a vinte e cinco de Novembro de mil novecentos e sessenta e cinco é, actualmente, Professor Auxiliar do Departamento de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se doutorou em Linguística Portuguesa. Tem colaborado em vários jornais e revistas com crónicas, contos e artigos de crítica literária. A par do seu trabalho de investigação e ensino, tem-se dedicado à escrita literária, especialmente à ficção, onde a influência de autores clássicos greco-latinos e autores anglo-saxónicos, se reflecte na sua escrita simples e concisa. Ganhou vários prémios literários, de que se destacam o Prémio Edmundo Bettencourt 2001 da Câmara Municipal do Funchal com a obra Os Incompatíveis (contos, Campo das Letras, 2002) e o Grande Prémio de Literatura ITF 2002 (actual DST) com a obra Fluviais (contos, Campo das Letras, 2001). Descobri-o recentemente por causa do seu último romance O Cavaleiro da Torre Inclinada, com o subtítulo de "Cenas da Vida Académica", onde, num registo simples, numa estrutura narrativa equilibrada, plena de ironia e com algumas pinceladas de sensualidade, nos revela um ambiente e uma praxis de tradição medieval e inquisitorial que ainda hoje subsiste no mundo académico.
Passemos então à pequena entrevista que o professor José Leon Machado amavelmente concedeu ao nosso espaço:

– Como surgiu o professor Leon Machado no mundo literário?


JLM – Antes do professor, já existia o escritor. Eu comecei a escrever um diário aos doze anos e foi nessa altura que surgiu a minha vocação para esta maroteira que é inventar histórias sobre a miséria alheia.


- O Cavaleiro da Torre Inclinada retrata uma certa forma de investigação e arguição académica "inquisitorial". Apesar de Bolonha, ainda se mantém essa perspectiva?


JLM – As coisas, a nível académico, não mudaram muito. O que mudou é superficial: os cursos de quatro ou cinco anos passaram para três e o financiamento do Estado ao Ensino Superior viu-se reduzido, levando à asfixia financeira das universidades, que não têm dinheiro para comprar livros e para pagar a luz eléctrica. De resto, tudo se mantém, infelizmente.
– A personagem principal enfrenta o enfado e a indiferença da mulher pela investigação e aposta no conhecimento do marido. De certa forma, é o retrato da nossa sociedade?
JLM – Sim, é. As pessoas são cada vez mais superficiais. Um lavrador ou um sapateiro analfabetos de há cinquenta anos atrás eram mais cultos do que o cidadão médio actual. Pelo menos sabiam tudo o que era necessário saber para exercer com mestria a sua profissão: tratar a terra e consertar sapatos. Além de terem uma opinião avalizada da vida e do mundo. Hoje em dia o conhecimento (e falo do conhecimento científico e erudito) é considerada, de um modo geral, uma coisa aborrecida, própria de cientistas malucos e de ratos de biblioteca. As pessoas, todavia, esquecem-se de que, sem o conhecimento e a investigação, não há evolução tecnológica.
– A dado passo, Marco Túlio, a personagem principal, cede à tentação de coleccionar certificados de presença a eito. Não estará o autor a "desconstruir" a essência da investigação académica?

JLM – Uma coisa é a investigação e outra a subida na carreira académica. Para se subir na carreira, é necessário fazer investigação. Mas esta é trabalhosa. Por isso, não falta quem opte por apresentar nos congressos uns textozinhos com uma dúzia de citações colhidas aqui e ali sobre determinado tema e ir fazendo o seu percurso académico dessa maneira. E quem faz isto está realmente a coleccionar certificados.

– No final do romance, dá-se uma ruptura na vida da personagem. Foi o final de um ciclo rotineiro em termos de vida académica? Ou o assentar (finalmente) da sua vida amorosa? Acidente de percurso motivado pelo resultado das provas de agregação?

JLM – Não propriamente. Na vida académica não há ciclos. Há um continuum até à cátedra. Como subir uma escada. O Ferreira merecia um castigo. E a esposa também. Numa boa história, os maus no final são castigados. Haja moralidade! Teremos de esperar para saber o que acontece na segunda parte que estou de momento a escrever.




1 comentário:

  1. uma boa entrevista! gosto do testemunho que o José Leon Machado deixa acerca de como se 'envolveu' com a literatura e concordo com o que diz acerca do ensino superior...
    ainda bem que a recuperou!

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