segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NOVOS LIVROS





http://www.novoslivros.online.pt/


Grato ao Dr. José Nunes Carneiro pela entrevista ao Novos livros a revista de leitores para leitores.

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Avessos”?
R-Avessos é, sem dúvida, um marco importante na minha escrita. Mais que o tijolo de uma obra é a trave mestra que, espero, venha a suportar um edifício de maior envergadura, o incentivo que me faltava para não parar e continuar a evoluir na escrita. Avessos, para além de ter sido o mais importante prémio literário que tive o privilégio de receber, representa a vontade de uma comunidade em trazer coisas novas ao panorama cultural, dar liberdade às palavras, aos autores e com isso, dar a conhecer a própria comunidade. Essa é, em ultima análise, a grande mais-valia de ser parte integrante deste projecto de escrita.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Como tive oportunidade de comentar noutro espaço estava demasiado parado em termos de produção literária. Publicava pequenos textos e crónicas no blog e faltava-me o combustível para seguir viagem. Concorrer ao Prémio literário da União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova foi a ideia base deste livro. Reuni alguns textos que reconstruí, construí outros de raiz e reuni-os com uma ideia comum: tirar a trela às palavras e ver que caminho seguiam, que rumo tomavam e se, porventura, nos levavam a descobrir o avesso da vida, que esta, vista pelo lado de fora, tem andado muito confusa…
3-Pensando no futuro, o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento estou a escrever ainda que às prestações, um romance. Uma viagem pela memória, um passado que aparece sorrateiramente para nos desarrumar a ordem natural das coisas. Uma história que se desenrola em forma de roteiro, uma espécie de guião onde cada um, munido da razão e do conhecimento procura descobrir um caminho que, embora idêntico para todos, corre a diferentes velocidades. Uma mulher morre num campo de centeio, um homem aparece enterrado na praia apenas com a cabeça e o pescoço de fora à mercê da maré, outro homem acorda em sobressalto, de madrugada, quando um homem de negro lhe bate à porta, com um jogo de xadrez debaixo do braço para disputar uma partida. Traz consigo a oportunidade de lhe limpar a memória e oferecer-lhe uma nova vida, mas sem termo de comparação com a anterior. A história é o pano de fundo para se comentar a revolução, a oportunidade e o desejo, a fragilidade das relações, a vontade e a inércia face à necessidade de se sobreviver à insignificância e a força necessária para se aceitar uma liberdade que nunca vem de borla. Enfim, um projecto ambicioso que pretendo terminar o quanto antes.
__________
Luís Bento
Avessos
Lugar da Palavra
(Prémio de Poesia da União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova/2015)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

PREGUIÇA MAGAZINE






Ilustração de João Pedro Coutinho


Este texto já por aqui passou, mas vê-lo na Preguiça Magazine tem outro encanto. Muito grato ao Paulo Kellerman pelo apoio e divulgação e ao excelente trabalho de ilustração do João Pedro Coutinho que apanhou, na íntegra, a essência das palavras, dos pássaros e de tudo...


Paulo Kellerman convida e coordena, nós damos a caneta e o papel, depois é só juntar talento e os contos nascem. De 15 em 15 dias, há ficção na Preguiça Magazine.


RAME-RAME


LUÍS BENTO


“Espero uma espécie de alma gémea do outro lado do texto”
Mário de Carvalho

Olho para trás com vontade de corrigir o passado e percebo que nos habituamos a não ter sido. Se fechar os olhos, por instantes, fico a uma distância segura da memória e do medo num universo que achava infinito e renovável, espécie de física quântica ou de tijolos sobrepostos a emparedar a nossa ingenuidade e pergunto-me se alguma vez estivemos completos ou se passámos a vida a apanhar cacos desde a infância.
Pego no papel e lápis e procuro, nas palavras, encurtar o abismo que nos separa, nesse cansaço de fim de tarde, sem conseguir explicar porque ficou o coração apertado assim tão de repente e tão difícil de decifrar. Sonho somar rugas, cicatrizes, marcas, lastro que o tempo larga em dias mansos, perder os meus limites à espera do milagre, do fim da novela, ou da Ressurreição no teu corpo. Estou sempre de partida e sem destino, homem brando a levar a vida em banho-maria, a sentir o corpo ausente, a desejar que o remorso fosse pedra para poder lançá-la e aliviar a carga. Em sonhos, viajo para muitos lugares, para longe e durante muito tempo e fico o mesmo, sem certezas geográficas, nomes ou aritméticas. Assim eram os pássaros.
Toda a realidade se dissolve numa abstracção de Schiller ou Kant… E depois fico assim, parado a meio do texto, sem ideias ou vontade, à espera que ele se escreva sozinho. Fumo um cigarro e penso que o universo é uma dialéctica entretida a subtrair coisas boas do teu sorriso e a fazer-nos viver com a diferença. O dia não ajuda. Está frio e cinzento, vai chover e não trouxe guarda-chuva. Oiço baixinho uma música do Einaudi. Deixa-me assim no rame-rame de uma melancolia doce, politicamente correcta, aceitável, se assim se poderá dizer. Certo é que continuo sem produzir.
Olho para a frente e vejo que o céu está cheio de pássaros e percebo, então, que ganho asas quando escrevo, que a moral da história está naquele livro que nunca lemos, e que decifrar estas palavras é repeti-las no tempo e no espaço, em que o amor é a nossa única liberdade… E então procuro seguir a vida pelo lado de dentro fazendo as curvas com cuidado. O desejo tem sempre muita pressa e eu gosto de abrandar, de ver pelo avesso, de contar pelos dedos as vezes em que o passado nos marcou a vontade ou a falta dela, a perda, o desleixo. Fui-te remendo, pedaço, cola, nota de rodapé, derivação regressiva do verbo amar… E isso já não me basta. Incomoda-me não ser eterno, não ter certezas, não conhecer Marte, não acabar a nossa história com um substantivo concreto. No movimento entre o barco e o cais, não somos nós que partimos, é o mar que chega. Dispo, então, o meu melhor poema que foste tu a sorrir a meu lado com cheiro de manhã. O silêncio é a nossa deixa para seguir viagem. Do corpo não se guarda nada, apenas a memória que sobra do momento em que o suor foi magia.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

LANÇAMENTO DO LIVRO "AVESSOS"



Há, efectivamente, mais vida para além do Orçamento e mais vida para além de Lisboa. Com ideias e vontade se vai desenhando o futuro. Quero aqui registar o meu apreço pelas iniciativas de âmbito cultural levadas a cabo pela Junta da União das freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova. Quero também registar o meu agradecimento pela amizade, pelo carinho, pela forma como fui tratado pela organização do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, que culminou numa cerimónia com imensa música e poesia na Casa de Montezelo, com um momento musical, a cargo do Quarteto Covers e declamação por Cidália Santos.




À conversa com a jornalista Goreti Teixeira do jornal Nós Aqui informação



Leitura atenta do jornal Nós Aqui Informação




Na mesa. Começando pelo lado esquerdo, o Dr. Daniel Vieira, Presidente da União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, Dr. Luís Filipe Araújo, Vice-presidente da Câmara Municipal de Gondomar, do lado direito, Aurélio Mesquita, autor da capa e a Dr.ª Maria Leonor  Ferreira, Presidente da Mesa da Assembleia




A receber o Prémio das mãos do Presidente Dr. Daniel Vieira, do lado direito o Dr. Luís Filipe Araújo, Vice-presidente da Câmara Municipal de Gondomar




Maria José Cardoso, do executivo da Junta com quem fui comentando e acompanhando o nascimento de "Avessos"



Gente muito simpática e carinhosa a encher a noite de sorrisos e poesia


Olha... Ali está ele...


http://www.fanzeres-saopedrodacova.pt/index.php/noticias-2/noticia/34-destaque-2/752-lancamento-do-livro-avessos

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DESTINO MACABRO



Ron Francis




Morro um pouco em todos os lugares por onde passo e onde procuro por ti. Nalgum ponto da nossa vida tudo vai correr bem para os dois, se o tempo parar e conseguirmos ser aquilo que o destino nos omitiu...

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

AVESSOS - LANÇAMENTO DO LIVRO









Um momento há muito aguardado...

No próximo dia 27 de novembro, pelas 21h30, na Casa de Montezelo em Fânzeres, será lançado o livro "Avessos", de Luís Alberto Gonçalves Bento, vencedor da 24.ª  Edição do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres.
A cerimónia, aberta a todos os que se queiram associar à iniciativa, contará com a atuação do Quarteto Covers e declamação por Cidália Santos.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

VALSA





Photographer Phoebe Rudomino

 

Ainda é cedo para lamber as feridas. 

Viver é não conhecer o fim, ter fé, transformar a terra, ser berço, ser espera, regressar com as aves na primavera. Às vezes parece que nos esquecemos que a gente nasce para ser feliz. 

Anda, solta-te. Temos uma valsa para dançar.

 


JÚLIO AIRES 6:30 a.m.






"E tudo começou com uma amizade comum, uma troca de mails e um texto que pretendia ser a moldura certa para uma imagem perfeita."






Foi assim que começou uma amizade na rede e foi assim que tomei conhecimento do lançamento do livro  6:30 a.m. de Júlio Aires no próximo dia 7 de Novembro através da editora Tree House e é com muito prazer que aqui deixamos o convite para visitar a respectiva página:  https://www.facebook.com/TreeHouseProj/ 

Um excelente apontamento fotográfico sobre o Porto numa " perspectiva diferente, algo silenciosa e misteriosa, dada pelo vazio das ruas e pelo ponto de vista peculiar, abaixo da linha do horizonte natural do nosso quotidiano".

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres - 24ª Edição




http://www.fanzeres-saopedrodacova.pt/
 
 http://www.fanzeres-saopedrodacova.pt/index.php/noticia/34-destaque-2/695-resultados-premio-nacional-poesia
 
" O Júri da 24ª edição do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, constituído pelas senhoras professoras: Dra. Clarinda Santos, Dra. Maria Augusta Cosme e senhor professor, Dr. José Nunes Carneiro, reunido em 14 de outubro, deliberou por unanimidade o seguinte:
"Analisadas as dezanove obras a concurso, o Júri deliberou, por unanimidade, atribuir o prémio à obra "Avessos" com o pseudónimo "Graça Mouro". Aberto o envelope correspondente ao pseudónimo da obra vencedora, verificou-se corresponder a Luís Alberto Gonçalves Bento."

Surpreendido e muito feliz, é como me sinto por ter sido distinguido com a 24ª Edição do Prémio Nacional da Vila de Fânzeres. Recebi a notícia num dia que aparentava ser igual a "tantos outros" foi pois, com grata surpresa que recebi a notícia com o resultado. Resta-me ainda agradecer o carinho, a simpatia e a condução do processo burocrático por parte da Drª Maria José Cardoso. Uma distinção que, obviamente, constitui um excelente incentivo para mais produção literária.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

FNAC, TRÊS ANOS DEPOIS








Três anos depois, a Maria de Fátima Santos conseguiu reunir quatro dos premiados dos "Novos Talentos FNAC 2012, no lançamento do seu livro  Só mais um abraço, numa cerimónia muito bonita na livraria Ler Devagar com muitos sorrisos, muitas fotos e mais rugas. Faltou o Pedro Amaral. Para a próxima...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

PANTANAL









Há qualquer coisa na nossa vida que, mal ou bem, é sempre assim ou assado, é sempre motivo para defesa ou ataque, chacota ou desculpa e tudo se resolve, alguém paga a conta, perdoa a dívida ou fecha a porta e, pouco a pouco, acabamos por voltar sempre ao sítio das recordações, um novelo de corda, sem fim, afundando-nos lentamente.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O SENHOR DAS PALAVRAS

Ron Francis




Subitamente, na sua mente, fez-se outono, frio, chuva, trânsito e aquele cinzento carregado de neura que só umas valentes páginas de Proust ou um fim-de-semana em Paris, ou ambos, ajudariam a suportar. Olhando para trás quase conseguia contar pelos dedos os dias em que não sentira náusea ou tédio, nem tivera queixas ou dúvidas, embora achasse, sem grande dificuldade, que a capacidade de se interrogar era o primeiro e único modo de resistir à desumanização, indicando o caminho ou fazendo luz sobre ele, habilidade que, no seu caso, pecava, já, por tardia.
Um dia gostaria de ver a parte de dentro das palavras por um segundo só que fosse, um fio de água a perder-se do rio, indiferente, perigoso, pardo, uma entrada num dicionário de estética. Tentava não enlouquecer, pelo menos de manhã. Reparava no silêncio, que não era fácil, nas folhas secas que ela trazia no cabelo, nas mãos frias e no seu olhar de vidro, pesado, a anunciar a noite e umas horas para recordar o seu nome com sabor a pêssego, conhecer o mar e a sombra sob os plátanos do jardim, paralelo à ruazinha esguia nas traseiras da sua casa que percorria, todos os dias, à procura de rimas para esquecer fantasmas e para deixar de ser cínico na tentativa de ensaiar um novo amor. Nada mudara no trajecto. Anseios de quando eram livres e que regressavam com as ondas.  Queria-a mais do que o necessário, a pairar um pouco acima do limite e nesse excesso ficava emperrado na paisagem, onde tudo se tornava improvável à espera que as ondas viessem, meninas da noite, e ele, sóbrio, a dormir, mais criança do que no princípio. O caos instalava-se na sua cabeça. Ser livre era desgastante e ele não conseguia dormir em viagens, ainda que interiores. Alice estava sempre no outro lado do espelho, enquanto desenhava uma flecha no tampo da escrivaninha no quarto de hotel barato de beira de estrada perdendo-se na dialéctica, verniz sintético da matéria, matemática oculta do universo grávido de ingenuidade. Deitava-se então, com a resignação que sempre lhe sobrava e com o tempo que sempre lhe fugia e ficava quietinho, até ser outra pessoa.