sexta-feira, 18 de outubro de 2013

7PECADOS


7 Pecados... Uma colectânea de gente interessante que semeia palavras por aí... Uma excelente organização da Pastelaria Studios com o empenho e profissionalismo da Maria Teresa Queiroz. Foi a oportunidade de divulgar mais umas palavras participando com um pequeno conto e de conhecer autores com quem apenas dialogava no mundo virtual, numa noite fantástica. O livro já se encontra na plataforma Goodreads para o respectivo rating...



terça-feira, 3 de setembro de 2013

ENTREVISTA COM TEOLINDA GERSÃO



Um privilégio imenso publicar a entrevista que Teolinda Gersão teve a amabilidade e disponibilidade de conceder ao nosso blog poupando, ainda o anfitrião, à dificuldade em sintetizar a sua  nota biográfica... Um grande momento de uma grande senhora das letras. 

NOTA BIOGRÁFICA:

Teolinda Gersão estudou nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim e Professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa. É autora de doze livros (romances e contos), traduzidos em onze línguas. Foram-lhe atribuídos por duas vezes o Prémio de Ficção do Pen Club (O Silêncio 1981, O Cavalo de Sol,1989)o Grande Prémio de Romance e Novela da APE (A Casa da Cabeça de Cavalo,1997), o  Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários (Os Teclados 1999), o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco (Histórias de Ver e Andar,2002), o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio da Fundação Inês de Castro (A Mulher que Prendeu a Chuva), e foi shortlisted para o Prémio Europeu de Romance Aristeion.
Foi escritora-residente na Universidade de Berkeley em 2004.
Alguns dos seus livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia.
Os seus livros mais recentes são A Cidade de Ulisses,romance, 2011,e As Águas Livres,Cadernos II,2013.

Mais informação em www.teolindagersão.wordpress.com

ENTREVISTA:


1- Fez uma declaração de amor à língua portuguesa em Junho de 2012 onde, num texto primoroso, aliou mordacidade,  humor e reflexão.

“Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta.”

A esta distância  acha que há, agora, mais amor à língua portuguesa, ou que, pelo contrário,  com a polémica do acordo ortográfico à ilharga ,“ a turma vai acabar por chumbar”?...

A “redacção” que escrevi em 2012, ”Declaração de amor à língua portuguesa,” era um texto  muito irónico, mas realista. O ensino que se faz da língua consiste basicamente na aprendizagem de uma terminologia e, por muito bons que sejam os professores, os alunos resistem a aprender o que acham tão absurdo como inútil. O que só prova que são inteligentes. O MEC tem os chumbos e as péssimas notas que merece.

Quanto ao desastrado “Acordo” Ortográfico, há um número crescente de vozes de protesto que o recusam liminarmente, em Portugal e fora dele. O que é um bom sinal de que estamos vivos.”Estou vivo e escrevo sol”, escreveu António Ramos Rosa. Nós estamos vivos e escrevemos/dizemos: Não.

2 - Em,  A casa da cabeça de cavalo,  o personagem Januário interroga-se sobre se primeiro se deveria ter um estilo e só então escolher as palavras...Estas são também interrogações suas? Construir uma história, um texto em que se consiga atingir o equilíbrio  entre a beleza da palavra, o estilo e a necessidade de reflexão? E esse equilíbrio surge-lhe de forma natural ou tem, por trás, um aturado trabalho?

Esse passo (como aliás todo o romance) é também muito irónico. Ninguém é escritor porque construiu a priori um estilo, só quem nada percebe de literatura pode julgar que se aprende a escrever através da teoria da literatura,da retórica literária,da linguística ou de qualquer outra disciplina. 

3 – Em  A cidade de Ulisses  a relação amorosa de um casal é o pretexto para abordar o amor, a liberdade, a identidade, a opressão e revisitar Lisboa, a antiga e a moderna, traçando paralelismos entre episódios de ruptura no passado e a situação actual. Acredita que é na  criatividade, na arte e na cultura que reside a chave para  vencer este fado de crise que ciclicamente atravessa a nossa sociedade?

Nada nas nossas crises é “fado”, mas sim corrupção e incompetência – por vezes incompetência voluntária, recusa de mudar o status quo por conveniência, o que é também uma forma de corrupção. Escrevi um romance sobre Lisboa, mas vejo-a da perspectiva de personagens que estudaram e viveram anos fora dela, e têm  por isso um olhar diferente. O fado não é uma canção melancólica, digo por exemplo no livro: é uma canção altiva. Porque é assim que penso, somos um povo corajoso e altivo, e não brando e resignado. E somos imensamente criativos, o que é uma enorme mais valia, não tenho a menor dúvida sobre isso.
 Amo muito Lisboa, sim. Estou satisfeita com o que, década após década, antes e depois de 74, o poder autárquico e político têm feito dela? A resposta é não. E em relação ao país, à mesma pergunta daria a mesma resposta: Não.

4 - No livro A mulher que prendeu a chuva assistimos a um quotidiano onírico, fantástico, reflexivo. Num dos contos, As tardes de  um viúvo aposentado, assistimos ao personagem a tentar preencher o seu dia, a inventar situações e saídas para poder ocupar o seu tempo. Acha que esse é o tormento do homem moderno? Num mundo evoluído tecnologicamente o homem acabar por ficar só num mar de gente...?

É verdade que a solidão é um problema actual. Existiu sempre, mas a modernidade agravou-o. No entanto isso não é uma fatalidade, e é possível encontrar saídas.O problema não está nas coisas a que acedemos, que, em si próprias, são neutras, está no bom ou mau uso que fazemos delas. A tecnologia por exemplo  pode afastar ou  aproximar as pessoas. No fundo, tudo depende sempre de nós. Escolher é possível.

5 - Nos seus livros sentimos que a vida pode ser experimentada a cada linha que se lê... É esse o papel da literatura? Experimentar o mundo? Deixar pistas para aquilo que não vemos no dia-a-dia?

Acredito que a literatura alarga o horizonte e a experiência do mundo. Os analfabetos (em sentido real e em sentido lato, de analfabetismo cultural) são incomparavelmente mais limitados e mais intolerantes do que aqueles que lêem (que sabem ler, também no sentido mais vasto do termo). O próprio gesto de abrir um livro (sem o qual na minha perspectiva a vida não seria vida) é um gesto de liberdade: um novo espaço se abre, e nos convida a percorrê-lo.E é, ao mesmo tempo, um gesto de humildade: algo que ainda não sabemos, não conhecemos, não temos, vai ser-nos oferecido e acrescentado, porque estamos sempre num processo de crescimento e de aprendizagem,que só chega ao fim quando morremos.

 6 - A última questão, normalmente, mais “leve”... A Teolinda Gersão já... prendeu a chuva?...

(Risos) Oh,não, eu amo a liberdade e o espaço, e, mesmo que pudesse, nunca prenderia nada! Nem o sol nem a chuva! 


POEMÍNIMOS





Já tive oportunidade de o referir noutras ocasiões, esta é mais um pretexto para agradecer e dar um abraço ao Eduardo P. Lunardelli. Privilégio meu, ter conhecido através dos blogs,  um homem generoso, em permanente contacto com os amigos e divulgando incansavelmente o seu trabalho e o dos outros. Um jovem com uma energia contagiante que acabou de editar mais um livro. Uma edição graficamente irrepreensível de pequenos poemas, irónicos uns, sensuais, outros, mas todos eles com um ritmo frenético e sabor a provocação...

Grande abraço, Eduardo.



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

PIROPOS EM BLOCO

Ilustração de Denis Zilber
"Militantes do BE discutem fim do piropo nas ruas do país" 

Regressado a casa após duas semanas repartidas entre Chaves, Boticas (antes e depois do os incêndios) e Madrid para curta visita ao Prado, ao Reína Sofia e ao Escorial, deparo-me com esta notícia na imprensa... Então ... Mas estas é que são as bandeiras da esquerda dita progressista e radical contra a Troika? Estamos bem aviados!... 


"Para nos tornarmos bons filósofos precisamos unicamente da capacidade de nos surpreendermos."
Jostein Gaarder
Pois em Portugal todos temos essa capacidade: A de adormecer como mero cidadão e acordar como reputado filósofo...


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ENTREVISTA COM PAULO MOREIRAS

E enquanto as nossas palavrinhas não se decidem a regressar fiquemos com as do escritor Paulo Moreiras numa entrevista concedida há algum tempo e que julgava perdida. Uma entrevista onde poderemos ficar a conhecer melhor um homem culto, afável e que, generosamente, acedeu ao nosso pedido. Após uma breve biografia oficial, aqui ficam algumas linhas trocadas sobre a sua obra e a sua visão da escrita num tom sereno e grande riqueza vocabular.


Nasceu em Agosto de 1969, em Lourenço Marques, Moçambique. Arribou a Portugal em 1974. Viveu no Douro, passou por Almada e vive agora em Meirinhas, perto de Pombal. Em 1996 publicou como argumentista “Hermínio, Regresso a Portucale”, em parceria com o desenhador Victor Borges. Em 1999 foi-lhe atribuída uma Bolsa de Criação Literária na modalidade de Narrativa. Entre Agosto de 2000 e Agosto de 2001 foi o coordenador do destacável cultural “Viver”, do semanário Jornal de Leiria, tendo colaborado também nos semanários O Correio de Pombal, Tribuna do Oeste, Região de Cister e no mensário Jornal das Cortes, neste último com prosa e poesia. Publicou o romance A Demanda de Dom Fuas Bragatela e, mais recentemente, Os dias de Saturno.

Caro Luís Bento,

Obrigado também pelo convite de figurar na sua galeria de entrevistados.

Aqui ficam as minhas respostas, desejando que correspondam às suas expectativas.

Um abraço,

Paulo Moreiras
 
1 - Se passarmos em revista alguns dos seus títulos: “Elogio da Ginja, o B.I. do tremoço ou o B.I. da Morcela ", escorregamos suavemente para a temática da gastronomia. De que forma, e como descobriu ter a gastronomia lastro para desenvolvimentos literários?


Por pura curiosidade, facto aliás que já carrego comigo desde a infância. Tive o privilégio de ter vivido numa pequena aldeia nas margens do Douro, quando vim de Moçambique, e de ter andado à descoberta dos inúmeros frutos que existiam nas terras da minha avó e dos meus tios. Parecia um Tom Sawyer, descalço, a correr pelos campos, a subir às árvores e a comer toda a espécie de frutos enquanto via os comboios ou os barcos a passarem. Junte-se a tudo isto a enorme riqueza gastronómica que degustei então, a broa acabada de sair do forno regada com azeite, as vindimas e as "buchas" comidas de permeio durante a jorna. Uma maravilha. Essas memórias levaram-me sempre a saber mais sobre os alimentos, as práticas culinárias e as tradições associadas. Infelizmente em Portugal não existe muita investigação sobre estes temas, comparativamente com outros países. Aos poucos fui satisfazendo as minhas curiosidades com estes pequenos trabalhos. Mas ainda há muito para fazer, tanto mais que a Gastronomia Portuguesa faz parte do nosso património cultural desde 2000 e há um conjunto de práticas que não podem, nem devem, cair no esquecimento.
 
2 – Em “ A Demanda de D. Fuas Bragatela” o herói (ou anti-herói) “arrasta-nos, ora por estradas reais, ora por semideiros escusos, em demanda de um dos mais importantes tesouros da Cristandade.” Tendo em conta este seu romance e olhando para a nossa história, poderemos concluir ser esta a génese da alma lusa? Andar em Demanda de qualquer coisa?


Esse é o nosso fado e o nosso destino. As demandas que todos carregamos servem para nos levar mais longe, arriscando, inovando, preenchendo-nos. Assim se constrói a nossa vida e o nosso património, as nossas memórias. O problema surge quando não sabemos bem definir as demandas que nos movem; por vezes vamos em busca de algo e dificilmente percebemos que o caminho é mais interessante do que o fim em si próprio. É como a vida ou como o amor.


3 – “Os Dias de Saturno”, situa-se no século XVIII num período de grandes transformações sociais e de significativos avanços científicos e intelectuais. E estes nossos novos tempos? Serão terreno fértil para inventar ou reinventar a escrita?

 
Felizmente a Literatura é um fértil alfobre onde ainda há espaço para invenções e reinvenções. A nossa língua permite tudo isso, seja pela incorporação de novos hábitos sociais, seja pela apreensão de novos vocábulos. O mundo está em constante mudança, assim como a nossa Língua. Tudo isto permite novas abordagens, por vezes bem sucedidas, outras nem tanto. O facto de estarmos a viver algumas transformações referentes ao modo como lemos - o caso do ebooks - irá fazer com que a escrita também sofra modificações, pois os canais também eles estão a mudar a forma como encaramos o livro enquanto objecto. São questões interessantes a que devemos ficar atentos.

4 – Como encara o processo criativo? Tendo em conta que se debruça sobre o romance histórico, com o cuidado a ter nos ambientes, no vestuário, no cuidado da linguagem e na pesquisa aturada, encara-o como um processo extenuante, absorvente e com uma forte componente de risco ou, pelo contrário, um processo natural onde o imaginário lhe flui com simplicidade?
 
É difícil falar sobre o meu processo criativo pois eu próprio nem sei às vezes como as coisas acontecem. Não é uma questão de inspiração, mas sim de muito trabalho. É um conjunto de complicações que se encadeiam desde a ideia original até à sua conclusão. Como referi, tenho muita curiosidade sobre determinados temas e isso leva-me a fazer pesquisas aturadas, mas gosto desse processo. Não direi que é extenuante porque me dá muito prazer. Gosto de aprender, de saber. Depois, durante esse processo, deixo o meu espírito criativo divagar e fico aberto a novas ideias que surgem, muitas vezes, quando encontro uma palavra, uma simples palavra usada nesses tempos de antanho. Fico fascinado pelas palavras, pelos seus significados e pelas imagens que elas proporcionam quando lidas. Umas conferem um ritmo e uma malícia interessante ao texto e isso agrada-me bastante. Existe um grande componente de risco, por isso demoro muito tempo a escrever. Tenho de sentir essas palavras, ter um conhecimento profundo sobre a época que vou trabalhar. A maior parte das vezes não uso a totalidade das minhas informações, não são precisas para o romance, mas tenho de as sentir na minha cabeça. Tenho escolhido criar romances históricos porque me possibilitam um certo imaginário, como se a distância temporal permitisse certas veleidades criativas e romanescas. Além disso, os meus romances, apesar de históricos, são sempre sobre os invisíveis da História, aqueles que não figuram nos livros. Depois de ter feito a investigação, deixo tudo a marinar na minha cabeça e a trama vai urdindo-se, paulatinamente e então começo a escrever. Por vezes tudo muda, as ideias alteram-se e o romance segue outro caminho, surpreendendo-me, na maior parte das vezes, para melhor. No fim de cada livro fico vazio, como uma garrafa e depois lá começo a encher a vasilha que se segue.

5 – “Os Dias de Saturno” a fazer jus à crítica comummente aceite, é “um romance fascinante sobre o amor e a sua impossibilidade, com doses iguais de humor e dramatismo”. É o amor assim tão impossível? Não deveria ser, à semelhança da escrita, uma reinvenção diária? Não deveria ser essa a nossa… Demanda?

Sou um homem apaixonado e sempre acreditei no amor. Pode parecer impossível à partida, mas o caminho a percorrer é frutuoso. Para isso, para ele se concretizar, o amor deve ser uma reinvenção diária pois não é fácil construí-lo e mantê-lo. Curiosamente, quando escrevi "A Demanda de D. Fuas Bragatela", a demanda do meu personagem, no princípio, era uma questão material, mas depois, durante o processo de escrita, ele seguiu por outro caminho, como na letra Pitagórica (Y), acabando por descobrir o amor. No final, essa era a sua demanda e a de todos nós. No romance em que estou a trabalhar a questão da impossibilidade do amor também se coloca, mas não foi uma situação pensada. Acabou por surgir no decorrer do processo. Ou seja, ando sempre a escrever à volta do mesmo...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O DETALHE

Quadro de Helena Abreu

Às vezes escrevo para fazer jeito ao dedo,  até chegar aquele texto. Outras para me tornar melhor. Não é que a salvação esteja na escrita, mas um dia a vida vai acabar de qualquer maneira e a noite é demasiado longa para histórias curtas...

O verão começara com o teu sorriso e prolongara-se noite dentro. Escura, amena. Os lábios, macios, escondidos num beijo de olhos fechados. De olhos fechados o universo  perde importância e os nossos  corpos, juntos, tornam-se infinitos, sem pressas, apesar de saber que não tenho noites suficientes para envelhecer nos teus braços. O tempo é um detalhe que vai e vem, sem palavras, dentro da memória, no momento em que me esqueço  dos nomes das coisas e sinto a intermitente presença da tua falta. Perco-me às metades no teu corpo e tu a tornares-te inteira numa lógica de que só a minha pele conhece a fórmula, sem raciocínio, vontade ou semântica. E imploro-te que não acendas a luz para poder ver a madrugada a partir.

E, lentamente, adormecemos. 


SETE PECADOS



Já tem data marcada lá para Outubro. A minha participação com um pecado numa colectânea com dois volumes, 400 páginas e muitos autores conhecidos que por aqui andam... Com a chancela, da sempre esforçada, Pastelaria Estúdios Lá mais para a frente falamos...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

NO 34 - 2º ESQUERDO, DA MINHA RUA

Trish Biddle



No trinta e quatro segundo esquerdo da minha rua, há um homem que conta histórias no papel, há casas antigas, com chaminés donde não sai fumo. Há paredes, ladrilhos e estendais. Há carros, barulho, velocidade, pombos e pardais. Há graffittis e assaltos, ternuras e tristezas, subidas e descidas, há igrejas, escola e mercearias. Na minha rua há sonhos, sortes e carências, ilusões, mentiras e desejos. Há olhares, intenções, dívidas e abraços. Há Natais, festas, música, pedras, caminhos e Pessoa… fado e futebol. Há sempre fado e futebol… Fátima é lá longe e anda esquecida. Há memória, relevâncias , excrecências , advérbios e substantivos, há gramática de afectos de tempos idos, há doces, cores, sabores, café, há tu e eu, de vez em quando, no trinta e quatro segundo esquerdo, da minha rua…

DE CORPO INTEIRO

IraTsantekidou 


O destino era assim uma espécie de folha rasurada, várias vezes, onde perdia o teu corpo fragmentado em memórias e o achava, inteiro, suspenso na métrica e no perfume das palavras...


IN, Verde, Código Verde - O Romance

quarta-feira, 24 de julho de 2013

QUER ESCREVER UM BEST SELLER?

Pintura de Karin Jurick...

E hoje, depois de ter recebido este mail de uma amiga: 


"L M
19:06 (há 5 horas)


para mim
Caro Luis,

Desculpe não lhe ter dado conta dos resultados do meu contacto com a *****, mas foram tão desmoralizantes que nem me apeteceu escrever sobre o assunto. 

"Catálogo fechado nos próximos dois anos" - foi a resposta. 

Para bom entendedor...  "

Para  além de achar que muitas destas editoras não chegam a 2015,  decidi fazer um pastiche de  um texto do Roberto Gomes e fugir um pouco ao "catálogo" do nosso blog.

Quer escrever um best seller?

Reúna algumas palavras delicodoces, enjoativas mesmo, misture-as com um pouco de mistério kitsch, dê-lhes muito movimento, cor e ruído. Junte mais duas alminhas cujos corações ainda não sabem que gostam um do outro, um pouco de drama um pouco de humor, sexo e um enredo lendário. Alguém que descobre uma mensagem sobre fadas e unicórnios e que só consegue decifrar metade da mensagem. Gaste metade do livro a apresentar as personagens, de preferência ocas, planas, vazias e sem densidade psicológica e a outra metade a decifrar o mistério… Junte-lhe ainda lágrimas e clímax, mexa rápido e volte ao ponto de partida. Repetir tudo de novo. Tire umas fotografias com Photoshop. Publique no Facebook umas frases elaboradas, tipo filosofia de alcova, adicione elogios a terceiros, junte também, moderadamente, auto-elogio. Faça umas poses, adicione-se a tudo o que é rede social e faça likes à bruta nas frases básicas dos colunáveis que pululam nas redes. Alguns deles gostam de ser bajulados. Faça-se amigo e comente os blogs  onde regurgitam baba literária de sucesso repentino. Daqueles que falam na casa com piscina, nos empregados e dos metros quadrados que distam dos mosaicos da cozinha até ao conforto e arrojo da estética dos sanitários.  Pense sempre em dinheiro e não tenha quaisquer veleidades literárias. Escrever em inglês abre portas.  Se escrever em português, inspire-se nas traduções de best-sellers em português pedregoso. Não faça dietas à base de Aquilino, Camilo ou Saramago, mas antes assim ao estilo rasteiro do José Rodrigues dos Santos. Tal como ele. Use personagens ocas, planas e sem densidade psicológica. Não complique. As mulheres são sempre jovens e bonitas. As feias são sempre sofridas e tristes. As bonitas são burras. Pelo menos um dos personagens deve imaginar que tem por missão salvar o planeta. Apresentados os personagens, crie um conflito. Soa-lhe igual a tanta outra coisa? Paciência!  Não se chateie: você quer ganhar dinheiro e não convém estar virado para originalidades. Há quem faça isso, nas novelas, anos a fio e ninguém se importa. Aflore, en passant, uma ligação com o Vaticano ou com a Maçonaria e pronto! Está no bom caminho. Se não sabe inventar enredos não faz mal. Faça como a Clara de Sousa: Junte meia dúzia  de receitas de culinária da sua avó querida, arranje uma capa gira e ponha uma maquilhagem forte.  A banalidade é a chave do sucesso!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

ESCREVER, VIAJAR, JANTAR,"AMIZAR"


 Eduardo em primeiro plano, Jorge Pinheiro e Rui Silvares ao fundo. A falta de nitidez é inépcia do fotógrafo.



Tudo começou em 2009. Tinha descoberto o Varal de Ideias,  o blog do Eduardo Lunardelli por acaso. A ousadia estética, a qualidade e o humor dos textos levaram-me a visitá-lo  mais vezes e a descobrir outros espaços de qualidade. O Expresso da Linha , o 100 cabeças e o Grifo Planante. E assim descobri três pessoas generosas, bem humoradas e com espírito criativo. E, neste mês, o Eduardo veio a Portugal com a esposa, oportunidade única e flagrante para nos reunirmos num jantar. Oportunidade única para conhecer o Rui Silvares, e o João Menéres, propositadamente vindo do Porto, que fez o discurso no final do repasto. Oportunidade única ainda para conhecer o novo livro do Eduardo Lunardelli em conjunto com o Jorge Pinheiro, o Rui Silvares, a Maria de Fátima e o Milton. Seis versões de um conto policial a oscilar entre o português cantado do outro lado do atlântico , o ritmo e a poesia do português de Portugal. Magnífico! Oportunidade ainda para conhecer e ler o novo livro de poemas do Eduardo. Uff...quanta energia e jovialidade..."Ô bento você tem alguma coisa de alemão? É muito branquinho... Não Eduardo, é falta de sol mesmo...rs rs rs rs"



O discurso do João Menéres







Manjar Branco....Uma delícia! O queijo também estava...




quarta-feira, 12 de junho de 2013

ALVINEX


No passado domingo, dia 9 estivemos no programa do Fernando Alvim – ALVINEX. Inserido num painel de luxo. Luís Martins, professor do ISCTE, director geral do programa Audax e João Fernandes  cordenador do Programa «E I» passámos uma hora à conversa sobre literatura, empreendedorismo e muita galhofa... Falou-se em escrita, oportunidades de negócio e no romance Verde, código verde. Futuro best seller... nas palavras simpáticas do Alvim.

Aqui fica o link para o programa:

terça-feira, 28 de maio de 2013

PENSO, LOGO EXÍLIO

Imagem retirada da net
A tia costumava dizer que ele era assim, meio avariado, desde pequenino, que trazia lá dentro, algum botão escangalhado. E dizia-o com ar blasée enquanto distraía a vista cansada nas montras da Joframa, na rua dos Fanqueiros, pejada de manequins amarelos e mortiços, aqui e ali esfolados e com mossas na tinta. Era o tempo em que o universo era feito de legos, livros e coisas boas e em que todos queriam ser alguma coisa: polícia, bombeiro ou astronauta. Ele não queria ser nada. Imaginava-se apenas uma espécie de Vasco da Gama ou Sandokan a descobrir o remédio para tratar a doença da mãe, o absurdo estéril dos  achaques e maleitas que a faziam sofrer de fraqueza e   vomitar entre a casa de banho e o quarto de janelas fechadas, no escuro, a debitar pedidos e queixumes. Doía a cabeça, os rins, as costas, a barriga. É dos nervos dizia o médico É dor de alma  diziam as vizinhas e ele ficava horas , parado, a olhar para o estuque encardido  onde um fiosinho de humidade deixara marcas desde o interruptor até ao rodapé à procura, ali, de algum sinal da existência de Deus. A tia viera da terra para Lisboa  para dar uma ajudinha, achava que ele não tinha tino, que lho levara algum personagem dos livros que lia em demasia, quase tão mau como apanhar muito sol naquela moleirinha cheia de sonhos, mas ele sabia que  ela era afiambrada à socapa pelo Arnaldo do terceiro andar, chauffeur de carro de praça, Merecedes-Benz 200 D, arraçado de carro de combate , polido, lustroso, porta estandarte do belenenses  com imagem fluorescente da nossa senhora no tabelier.  Era nesses momentos que ele aproveitava para ir à caixinha, por trás do jarrão chinês da dinastia Ming que a mãe comprara quando ainda tinha disposição e sorriso, ao aldrabão do Mota da casa de móveis em segunda mão  que afiançava ser genuíno, que de qualidade e velharias percebia ele e tirar umas moedas para ir à mercearia comprar pastilhas e recordar com a Tininha as férias do verão anterior, em Santo André, com o avô a fazer vinho americano às escondidas porque era proibido desde o tempo do Salazar, a barrar manteiga nos dois lados das bolachas Maria porque era guloso e porque as lambia até derreter por não ter dentes.O amor com interrupções, as brincadeiras, as asneiras, muitas, mais que pedras no caminho de Pessoa. Esse Pessoa a tornar-se calhau imenso, estigma melancólico a atravessar-se com pontualidade arreliadora na alma lusa. As corridas para a aloja com cheiro a gasól, do motor de tirar água do poço, porque ela tinha medo dos javalis, cobras e ratos do campo. Trocavam carícias no meio das sacas de batatas  e a avó a espantá-los  com as mãos   ásperas, para ajudarem apanhar os marmelos que começavam a cair de maduros e faziam estrondo ao esborrachar-se nos torrões duros de terra seca,   a avó a gritar porque se esventravam e ficavam sem serventia. O mesmo som que ouviria mais tarde, quando aquele  alferes miliciano que cumprira tropa no Uíge  e que fora da Securitas e depois entrara para um banco e tinha uma mulher  hospedeira, muito bonita e, por sinal, muito simpáticos e se mandou da varanda descascada de um sétimo andar em Odivelas e ele a ouvir a avó gritar que eles se esventravam e ficavam sem serventia e a perceber que a morte tinha cheiro e que no fim ficava um silêncio absoluto, vereda estreita entre o pensamento e a fé, espécie de exílio onde o corpo resgatava a memória e o amor, que se tornava mais forte não pelo espaço ocupado no coração, mas pelo vazio que ficava quando partia…

domingo, 19 de maio de 2013

CABEÇA




Um sono tardio e incompleto num bocejo quase sorriso que lhe escancarava a porta para o sonho , numa equação infinita onde o tempo era apenas um espaço entre linhas.

BENFAZEJA REVISTA

Café com leite por Nélia Gonçalves


Uma excelente surpresa da revista Benfazeja Comunidade Literária do Brasil...


As Conversas ... um conto publicado na Benfazeja... com uma excelente fotografia da Nelia Gonçalves e um agradecimento especial ao editor Wellington Souza . Um mimo do Brasil com referência ainda ao nosso espaço e uma pequena nota biográfica , mais uma vez em excelentes companhias...





Conto de Luís Bento


- Ela não gosta de peixe espada, nem de cabidela, nem de polvo, nem assim… É esquisita! Tenho que perguntar: O que é que queres? Ela nem olha para mim… 



E a conversa a estender-se, mole e azeda, a destilar fel, culpas e barbaridades entre as duas amigas já entradas na idade, fustigando nora, primos, vizinhos, azares da vida, o Papa, o Obama, e o buraco do ozono numa escala ascendente e secular enraizada na genealogia do D. Afonso Henriques. Na montra do café erguiam-se, alinhados, quatro melões brancos empinados dentro de taças de mousse de chocolate, garrafas de Porto, latas de Guaraná, uma águia do Benfica em loiça, uma fina camada de pó e duas moscas tombadas junto ao caixilho. Encostado ao balcão, um brasileiro de sotaque cerrado do sertão descompondo os moleque do Glorioso, um mecânico a insistir nas qualidades nutritivas das iscas com batatas, um pequeno rádio de antena espetada a apanhar frequências no Éter, debitando casos de polícia, escândalos e musiquinha de elevador.



- Quer mais uma torrada? Coma! Se não, dá-lhe a fraqueza! E cházinho? Quer mais chá? Beba para não empanturrar. – E eu é que sei como vou andando. Um mal-estar. Pior do que quando estive doente. Logo vou comer arroz de grelos - mas pouquinho - com bogas fritas. Vou tomar o medicamento. Como um doce e é assim… ver novela, mas pouco que a luz está cara. Nem o molho posso comer. Vou tomar as carteirinhas de sais meia hora antes de deitar, mas não adianta! Fico enfartada na mesma! 



E a mulher zunia sem interrupção ou obstáculos atropelando na acidez das palavras, ora o governo, ora os lençóis de quinze euros que a nora comprara, tão bons que nem engelham, numa luta desigual entre as mandíbulas e a torrada triturada ruidosamente. A amiga meneava a cabeça, à sua frente, com interesse distraído de beiços afogados no chá a diluir-se na memória do marido, manobrador de máquinas da construção civil que a convidara numa noite aziaga para uma casa de petiscos, caracóis, mines e sandes de torresmos. E ela, que não partilhava de particular simpatia pelos gastrópodes, passara a noite a tricotar uma camisola para o neto, ingrato e mal-educado que nem a quisera provar. O marido a engasgar-se com um osso de cabeça de porco do torresmo mal prensado e ela a tricotar o mundo na tasca, na ambulância, nos corredores do hosp ital a aguardar o resultado do exame que acabara por metamorfosear-se em autópsia.



A outra, em velocidade de cruzeiro, invectivava, ainda, a nora. - Sempre toda arranjada, sempre no cabeleireiro, sempre no cabeleireiro. São ricos! Mas eu já vi, uma vez que fomos ao Braz & Braz, que o cartão não deu…. Está avariado! Tenho que falar com o banco para trocá-lo… Avaria… Avaria tem ela na conta arrombada no banco. Tem memória curta que nunca me pagou!.. A cínica! Não têm noção dos dias que aí vêm. 



Às vezes balançava na dúvida entre a existência de Deus e o seu grau de miopia, pois que se Ele estava em toda a parte por onde andaria que não o via fazer nada por si, conformando-se envergonhadamente com a desgraça alheia, da vizinha de baixo por exemplo, que se separara do marido, um burgesso relapso que punha as meias em cima da mesa de cabeceira, não ajudava em casa, não ia às compras e ainda lhe ia ao porta-moedas, descaradamente instalado no acto de se furtar ao sustento da casa e a viver, airosamente, à sombra dela. E a prima, a prima que Deus tinha, coitada, que fora operada primeiro a um peito, depois a outro e uns meses mais tarde, quando insistia para tomar o remédio e as carteirinhas de sais para ficar melhor ela lhe murmurara, numas sílabas inaudíveis, qualquer coisa sobre uma náusea e um quisto escondido por trás do cólon, sem indícios de plaquetas baixas nem nada, acabando por finar-se a meio de um serão televisivo.



Ao seu lado, um homem novo, ouvinte acidental da conversa, viu as horas, deixou umas moedas para pagar o café e lançou um olhar lá para fora, através da montra por onde, àquela hora, se divisava ainda, sem favor, uma nesga de céu. Levantou-se com a vontade expressa de conquistar Lisboa aos Mouros, com a certeza firme de que a vida era algo mais que um lugar comum a esgueirar-se, de fininho, entre um intervalo da novela e um anúncio do Fairy e que a realidade era, “tão somente”, um olhar sereno a entornar azul sobre as coisas…




LUÍS BENTO
nasceu em Lisboa, em 1964. Licenciou-se em Línguas e Literaturas, foi professor e tornou-se bancário. Alinhavou algumas letras e parágrafos em suplementos literários de jornais durante a década de 80.Gere o blog bento-vai-pra-dentro-bento.blogspot.com,onde publica textos de prosa sobre diversos temas, ligados à crítica de costumes, reflectindo sobre a sociedade portuguesa contemporânea. Participou na Coletânea Balaio de ideias e publicou em edição de autor no Brasil, o livro Lusitânia Online.Continua a alinhavar letras e parágrafos em colaboração dispersa em revistas nomeadamente na versão portuguesa da The Printed Blog e a sair brevemente, na versão original nos Estados Unidos. Finalista e vencedor publicado, em conjunto com mais quatro autores, do Prémio Novos Talentos FNAC da literatura 2012.
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Créditos da imagem: Olhares.com
Café com Leite..., por Nelia Gonçalves

ENTREVISTA COM JOSÉ LEON MACHADO



Recuperando uma  entrevista ao professor e autor José Leon Machado, concedida ao nosso espaço em 2010, que julgava perdida por problemas  técnicos e que mantém uma actualidade preocupante.


O convidado desta semana, que gentilmente acedeu ao nosso pedido é o professor José Leon Machado. Nascido em Braga a vinte e cinco de Novembro de mil novecentos e sessenta e cinco é, actualmente, Professor Auxiliar do Departamento de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se doutorou em Linguística Portuguesa. Tem colaborado em vários jornais e revistas com crónicas, contos e artigos de crítica literária. A par do seu trabalho de investigação e ensino, tem-se dedicado à escrita literária, especialmente à ficção, onde a influência de autores clássicos greco-latinos e autores anglo-saxónicos, se reflecte na sua escrita simples e concisa. Ganhou vários prémios literários, de que se destacam o Prémio Edmundo Bettencourt 2001 da Câmara Municipal do Funchal com a obra Os Incompatíveis (contos, Campo das Letras, 2002) e o Grande Prémio de Literatura ITF 2002 (actual DST) com a obra Fluviais (contos, Campo das Letras, 2001). Descobri-o recentemente por causa do seu último romance O Cavaleiro da Torre Inclinada, com o subtítulo de "Cenas da Vida Académica", onde, num registo simples, numa estrutura narrativa equilibrada, plena de ironia e com algumas pinceladas de sensualidade, nos revela um ambiente e uma praxis de tradição medieval e inquisitorial que ainda hoje subsiste no mundo académico.
Passemos então à pequena entrevista que o professor José Leon Machado amavelmente concedeu ao nosso espaço:

– Como surgiu o professor Leon Machado no mundo literário?


JLM – Antes do professor, já existia o escritor. Eu comecei a escrever um diário aos doze anos e foi nessa altura que surgiu a minha vocação para esta maroteira que é inventar histórias sobre a miséria alheia.


- O Cavaleiro da Torre Inclinada retrata uma certa forma de investigação e arguição académica "inquisitorial". Apesar de Bolonha, ainda se mantém essa perspectiva?


JLM – As coisas, a nível académico, não mudaram muito. O que mudou é superficial: os cursos de quatro ou cinco anos passaram para três e o financiamento do Estado ao Ensino Superior viu-se reduzido, levando à asfixia financeira das universidades, que não têm dinheiro para comprar livros e para pagar a luz eléctrica. De resto, tudo se mantém, infelizmente.
– A personagem principal enfrenta o enfado e a indiferença da mulher pela investigação e aposta no conhecimento do marido. De certa forma, é o retrato da nossa sociedade?
JLM – Sim, é. As pessoas são cada vez mais superficiais. Um lavrador ou um sapateiro analfabetos de há cinquenta anos atrás eram mais cultos do que o cidadão médio actual. Pelo menos sabiam tudo o que era necessário saber para exercer com mestria a sua profissão: tratar a terra e consertar sapatos. Além de terem uma opinião avalizada da vida e do mundo. Hoje em dia o conhecimento (e falo do conhecimento científico e erudito) é considerada, de um modo geral, uma coisa aborrecida, própria de cientistas malucos e de ratos de biblioteca. As pessoas, todavia, esquecem-se de que, sem o conhecimento e a investigação, não há evolução tecnológica.
– A dado passo, Marco Túlio, a personagem principal, cede à tentação de coleccionar certificados de presença a eito. Não estará o autor a "desconstruir" a essência da investigação académica?

JLM – Uma coisa é a investigação e outra a subida na carreira académica. Para se subir na carreira, é necessário fazer investigação. Mas esta é trabalhosa. Por isso, não falta quem opte por apresentar nos congressos uns textozinhos com uma dúzia de citações colhidas aqui e ali sobre determinado tema e ir fazendo o seu percurso académico dessa maneira. E quem faz isto está realmente a coleccionar certificados.

– No final do romance, dá-se uma ruptura na vida da personagem. Foi o final de um ciclo rotineiro em termos de vida académica? Ou o assentar (finalmente) da sua vida amorosa? Acidente de percurso motivado pelo resultado das provas de agregação?

JLM – Não propriamente. Na vida académica não há ciclos. Há um continuum até à cátedra. Como subir uma escada. O Ferreira merecia um castigo. E a esposa também. Numa boa história, os maus no final são castigados. Haja moralidade! Teremos de esperar para saber o que acontece na segunda parte que estou de momento a escrever.




quinta-feira, 25 de abril de 2013

ABRIL

manuel de seabra / social -democracia, in antologia da poesia visual europeia, ed. futura 1977


- Os portugueses devem aos militares de Abril a sua liberdade...  E aos bancos a casa, o carro, o frigorífico...

FOLHA DE PAPEL

Scriptease Editions
A mãe queria que ele fosse médico. O pai queria que ele fosse gente. A mãe queria que estudasse, o pai queria que cortasse as asas e deixasse de sonhar. E ele tornou-se folha de papel cheia de palavras e deitou-se poema nos braços dela, estendida sobre a areia com cheiro a mar.