Sou fragmento sem explicação, porto de partida sem
ninguém de quem me despedir, vítima do abismo feito de lençóis e da vontade do verão que acabou de chegar. Ir embora é uma improbabilidade matemática na poeira
cósmica e infinita de um universo, onde só interessa a linha de crédito a seis
meses, sem juros e a náusea que sinto por algo de que já não me lembro. Ontem
tinha menos anos que hoje, menos rugas e mais paciência. Saúde? Vai bem obrigado!
Ainda acordo, sem grandes certezas, todas as manhãs. Ainda
moro na mesma rua, na mesma casa, no mesmo corpo. Desencontrámo-nos. O tempo corre depressa, eu penso devagar e nesse hiato
poético... Anoiteço.