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quarta-feira, 4 de julho de 2012

TRANSPARÊNCIAS II


Era refugiado na transparência do olhar, debelando uma timidez à distância a que não resistia ao vivo, concordando às escondidas como se fazê-lo de outra forma fosse uma afronta, que percebera ser a sua vida feita de pretéritos e memórias. Ácidas umas, doces as outras, por vezes era na noite fresca com míngua de chuva e um quarto de lua que, lenta e suavemente, regressava às palavras. Amavam-se por palavras. Mais que perseguidos eram empurrados por elas . Ganhavam contornos de fino recorte iterário que apelavam aos sentidos de uma forma tão física quanto o permitia a metáfora colada à alma com a pontuação  dedilhando borboletas no estômago.   E assim, trazidas pela brisa suave ou em caixas de letras, as palavras respiravam por perto, lembrando-lhe que era na generosidade e na entrega sem pausas, elos únicos, francos e irretocáveis que a vida se tornava tão fácil, no momento em que elas os levavam para lá do céu com o arco-iris e o mundo inteiro lá dentro…

quinta-feira, 28 de junho de 2012

UMA NOITE


Surgia assim, de mansinho, o amor apenas escorado na grandeza da palavra.

“Amo-te”…

...Assim gráfico, poderoso, desnudado, oferecendo-se generosamente sob a forma de letra sem direito a reforma ou protesto, a lembrar-lhes a simplicidade das coisas e eles, esmagados, contemplando-as assim, alinhadinhas, desafiando-os a medir a geografia do desejo onde ambos se consumiam, não tão longe quanto parecia nem tão perto quanto desejavam, adivinhando-se as formas, os olhares, os cheiros a compulsão dos corpos  e o travo agridoce do sexo...

Ao diabo com o mundo, as convenções e o tempo a fugir à sua passagem! Amar era assim, uma longa história de paciência a folhear nos próximos capítulos, com assiduidade. Ele, em ebulição, a pretender-se simples, a dar-se por inteiro, sem remorso, numa dádiva, numa troca sem factura ou recibo em alegre convívio e atropelo e ela a apanhar-lhe o traço em breves pinceladas num curto esboço onde, por breves instantes, o corpo passara a noite, mas o coração hospedara a vida inteira…