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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

DERBY






Ele sempre manifestara uma paixão sem tamanho pelo seu clube de eleição e expressara, desde cedo, o desejo de ser cremado e que fossem atiradas as cinzas ao ar durante um derby em Lisboa, no momento em que se gritasse: “Gooooooolo”.

Consultaram-se notários e solicitadores, lavraram-se actas e escrituras, selaram-se ordens e documentos. E Ele morreu.

A família chorou e mandou cremar, rezar missas e riscar dias no calendário até perto do final do campeonato. Compraram bilhetes para o derby e convidaram a gente mais chegada entre família, amigos e um ex-presidente de junta a quem deviam favores e pagaram as passagens de comboio. Já quase perdiam a esperança quando, no último minuto da partida, esfuziante e roxo de berraria, o comentador deu rédea às cordas vocais e derreteu os últimos decibéis com a tão esperada frase: “Gooooolo! É gooolooooo!

E a família lançou as cinzas fora da caixa deixando que se espalhassem, levadas pelo vento, pelas bancadas, pelas cabeças e pelas bocas escancaradas, com um leve sorriso de alívio e de satisfação por ter sido cumprido o último pedido do moribundo. Ecoava ainda a gritaria pelas bancadas agitando-se bandeiras e cachecóis com fervor, preparando-se, todos, para um final apoteótico, não fora, o golo ter sido anulado por fora de jogo…