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quarta-feira, 4 de julho de 2012

TRANSPARÊNCIAS II


Era refugiado na transparência do olhar, debelando uma timidez à distância a que não resistia ao vivo, concordando às escondidas como se fazê-lo de outra forma fosse uma afronta, que percebera ser a sua vida feita de pretéritos e memórias. Ácidas umas, doces as outras, por vezes era na noite fresca com míngua de chuva e um quarto de lua que, lenta e suavemente, regressava às palavras. Amavam-se por palavras. Mais que perseguidos eram empurrados por elas . Ganhavam contornos de fino recorte iterário que apelavam aos sentidos de uma forma tão física quanto o permitia a metáfora colada à alma com a pontuação  dedilhando borboletas no estômago.   E assim, trazidas pela brisa suave ou em caixas de letras, as palavras respiravam por perto, lembrando-lhe que era na generosidade e na entrega sem pausas, elos únicos, francos e irretocáveis que a vida se tornava tão fácil, no momento em que elas os levavam para lá do céu com o arco-iris e o mundo inteiro lá dentro…