sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O DETALHE

Quadro de Helena Abreu

Às vezes escrevo para fazer jeito ao dedo,  até chegar aquele texto. Outras para me tornar melhor. Não é que a salvação esteja na escrita, mas um dia a vida vai acabar de qualquer maneira e a noite é demasiado longa para histórias curtas...

O verão começara com o teu sorriso e prolongara-se noite dentro. Escura, amena. Os lábios, macios, escondidos num beijo de olhos fechados. De olhos fechados o universo  perde importância e os nossos  corpos, juntos, tornam-se infinitos, sem pressas, apesar de saber que não tenho noites suficientes para envelhecer nos teus braços. O tempo é um detalhe que vai e vem, sem palavras, dentro da memória, no momento em que me esqueço  dos nomes das coisas e sinto a intermitente presença da tua falta. Perco-me às metades no teu corpo e tu a tornares-te inteira numa lógica de que só a minha pele conhece a fórmula, sem raciocínio, vontade ou semântica. E imploro-te que não acendas a luz para poder ver a madrugada a partir.

E, lentamente, adormecemos. 


4 comentários:

  1. E assim, nesta forma simples e simultaneamente poética, nos surpreendes.
    Em todos estes anos que sigo o teu escrever, encontro motivos doces para permanecer aqui.
    Não desistas nunca de partilhar destes momentos de puro deleite para quem acompanha as tuas palavras.
    Um beijo.
    Parabéns. É belo, como sempre.
    M

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  2. tão lindo isso: apesar de saber que não tenho noites suficientes para envelhecer nos teus braços.
    também não tenho mais noites pra envelhecer nos braços do meu amor.

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